Pernambuco

EDUCAÇÃO

Creches auxiliam crianças em situação de vulnerabilidade; demanda por vaga é alta no Recife

Programa Infância na Creche vai abrir 7 mil vagas na cidade; no Nordeste 49,3% das crianças não estão matriculadas

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Creches são ainda mais benéficas para as crianças que vivem em situação de vulnerabilidade, se tornando um espaço de cuidado, higiene e alimentação - Andrea Rego Barros/PCR

A pernambucana Edvânia Maria da Silva, de 24 anos, cuida de quatro filhos no bairro de Dois Unidos, na Zona Norte do Recife. Cozinheira de salgados e doces, ela não consegue sair de casa para vendê-los porque não tem com quem deixar a mais nova, de 2 anos. Só vendendo as produções de casa, pouco consegue complementar a renda mensal de R$ 375, advinda do Bolsa Família mais o auxílio emergencial. 

Há quase um ano, ela tenta matriculá-la na Creche Municipal Tia Emília, no Alto do Capitão - uma das três do bairro e a que fica mais próxima da sua casa -, mas não há vagas. “Já liguei para o número para botá-la na reserva e até agora nada”, conta.

A situação de Edvânia não é única. O líder comunitário Antônio Batista de Moura Filho relata que este ano recebeu 78 reclamações de falta de vagas em creches e escolas dos moradores de Dois Unidos. “As vagas não existem. Quando chega a época que é propícia para as pessoas irem [fazer a matrícula], as mães dormem em frente às creches para ver se conseguem uma vaga, mas infelizmente não têm êxito”, expõe.

A realidade é comum no Brasil: a ausência de escola ou creche na localidade, falta de vaga ou não aceitação de matrícula por causa da idade da criança foi o segundo motivo mais apontado pelos pais como razão de os filhos não frequentarem esses estabelecimentos, segundo os dados da PNAD Educação 2019, do IBGE. A taxa nacional foi de 27,5% para crianças na faixa de até 1 ano e de 39,9% para 2 a 3 anos. No Nordeste, o índice para crianças de 2 a 3 anos chega a 49,3%. 

Hoje, o Recife oferece 6,5 mil vagas nas 86 creches da rede municipal. Com o Programa Infância na Creche, anunciado no último dia 24 de agosto, a prefeitura planeja abrir mais 7 mil vagas em 50 novas unidades até 2024. Através da iniciativa, o município vai investir R$ 150 milhões na construção de novas unidades; ampliação e requalificação das já existentes; parcerias com instituições sem fins lucrativos; e estudos para parceria público privada (PPP), para viabilizar a construção de outras creches.

O prefeito João Campos prometeu a abertura de 26 creches e 1,8 mil vagas para o próximo ano ao anunciar que a gestão já está executando obras. “Já são 6 novas creches em obras na nossa cidade, além de projetos para mais 10 sendo executados e outros 10 sendo licitados para começar a obra de maneira imediata”, falou. A reportagem procurou a Prefeitura do Recife para maiores esclarecimentos, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.

Creches são essenciais para o desenvolvimento infantil

Além de possibilitarem que os pais ou cuidadores consigam procurar emprego ou trabalhar, as creches também são importantes por auxiliarem no desenvolvimento infantil, de acordo com a pedagoga Thaís Santiago. “Nelas, são trabalhadas habilidades e competências que vão facilitar a adaptação da criança nos próximos anos escolares e na vida escolar, por ela desde o início ter sido colocada nessa situação de aprendizagem e interação”, pontua a profissional.

Thaís explica que, na educação infantil, se trabalha com os campos de experiências, como “eu, o outro e o nós”, em que se estimula a interação com o outro e o conhecimento de si mesmo; “corpo, gestos e movimentos”, que exercita a coordenação motora fina e grossa; a “escuta, fala e pensamento”, que se debruça sobre a oralidade e a interpretação; além de “espaço e tempo” e “traços, sons, cores e formas”.

O benefício pode ser ainda maior para as crianças que vivem em situação de vulnerabilidade, para quem a creche se torna um espaço de cuidado, higiene e alimentação, comenta Thaís. “O que é apresentado para essa criança (na creche), em casa ela não teria essa possibilidade de vivenciar. Com as atividades que são realizadas, ela pode se desenvolver um indivíduo capaz de mudar sua realidade”, conclui.

Edição: Vanessa Gonzaga