Rio de Janeiro

"Quiosques de volta"

Trabalhadores protestam contra retirada de camelôs da Nelson Mandela, em Botafogo (RJ)

A demolição dos quiosques do local, conhecido como o “camelô de Botafogo” há mais de 30 anos, aconteceu no mês de julho

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Trabalhadoras e trabalhadores reivindicam o direito de trabalhar e o diálogo com o prefeito Eduardo Paes (PSD) - Divulgação

Na manhã desta terça-feira (17), um grupo de camelôs realizou um protesto fechando o cruzamento das ruas São Clemente e Nelson Mandela, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro. O ato foi organizado contra a retirada dos ambulantes da região pela Prefeitura do Rio há um mês. Eles reivindicam o direito de trabalhar e o diálogo com o prefeito Eduardo Paes (PSD). 

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"Estamos aqui pelos trabalhadores que foram despejados. Camelô é trabalhador. Tem vários pais e mães de família aqui. A gente precisa garantir que essas pessoas voltem para seu espaço de trabalho. Várias não tem de onde tirar comida para colocar no prato. A gente quer eles de volta aos seus quiosques", afirmou a representante do Movimento Unido dos Camelôs (MUCA), Maria dos Camelôs, durante o ato. 

 

 

A retirada dos trabalhadores do local, conhecido como o “camelô de Botafogo” há mais de 30 anos, aconteceu em meados do mês de julho em uma ação conjunta entre a Secretaria Municipal de Conservação (Seconserva), a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) e a Subprefeitura da Zona Sul do Rio. 

Na ação foram demolidos 32 quiosques destinados ao comércio de rua que restavam no local. Do total de 94 boxes comerciais instalados originalmente na Nelson Mandela, 62 já haviam sido demolidos em outra ocasião. 

Procurada pelo Brasil de Fato, a assessoria de comunicação da Seop afirmou que Justiça ordenou por meio de uma liminar a remoção dos quiosques por estarem em um terreno que pertence à construtora Cyrela. 

“Conforme publicado no Diário Oficial do Município em 2020, todos os ambulantes que eram titulares de quiosques no local à época das notificações foram realocados para pontos em seis bairros da Zona Sul (Laranjeiras, Catete, Botafogo, Cosme Velho, Flamengo e Glória). Em duas ocasiões, os comerciantes receberam notificações informando que deveriam deixar a área”, disse em nota. 

Os camelôs, no entanto, argumentam que o espaço das calçadas que ocupavam com os quiosques pertence à Companhia de Transportes Sobre Trilhos do Estado do Rio de Janeiro (Rio Trilhos) da prefeitura e não à construtora. Também afirmam que os 32 quiosques demolidos no último mês pertenciam aos trabalhadores que não aceitaram um acordo formal com a construtora para desocupar o espaço.

“Conseguiram uma liminar na Justiça para nos tirar daqui, totalmente arbitrária. O dono da empresa falou que vai revitalizar a área toda. Mas que poder esse homem tem? A saída do terreno dele é para a Voluntários da Pátria e para a São Clemente, nós não impedimos o terreno dele, mas querem nos tirar para ter vitrine. Eles falaram: 'ou aceitam o acordo ou passamos por cima'. Nunca imaginamos que eles iam fazer isso”, afirmou Eva Torres, ambulante e membro do Comércio Popular de Botafogo, durante a manifestação. 

Na última segunda-feira (16), representantes do MUCA estiveram reunidos na Câmara Municipal do Rio de Janeiro com o vereador Lindbergh Farias (PT) e representantes do mandato da deputada estadual Renata Souza (Psol) para debater soluções para os trabalhadores.

“Tiraram nosso pão de cada dia. Queremos saber do Eduardo Paes: por que está favorecendo uma construtora ao invés de estar do nosso lado?”, acrescentou Eva. 

Edição: Mariana Pitasse