Rio de Janeiro

INVERNO INTENSO

Frio além do normal na região serrana do RJ prejudica a produção de alimentos

Perda de produtos por conta de geadas e atraso nas colheitas poderá ter resultado no preço dos alimentos nas cidades

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Hortaliça teresópolis
Regiões com produção de hortaliças, como Teresópolis, tiveram perdas significativas devido à sensibilidade das folhas ao frio excessivo - Acervo pessoal/Rosana Martuchelli

O inverno termina no dia 22 de setembro, mas na região serrana do estado do Rio de Janeiro ele costuma se prolongar um pouco mais. Neste ano, as geadas provocadas pelo frio, com temperaturas mais baixas que o normal, estão preocupando os produtores de frutas, legumes e hortaliças. As consequências também poderão chegar ao bolso dos consumidores nas cidades do estado.

Produtora rural de Teresópolis, Rosana Martuchelli disse ao Brasil de Fato que havia 15 anos ela não presenciava temperaturas tão baixas na serra. Ela contou que em alguns dias de julho os termômetros na cidade chegaram a marcar temperaturas abaixo de zero grau.

"Pegamos dias de -2ºC. Estou a 800 metros de altitude, há produtores a mil metros de altitude em situação pior. Nossos associados tiveram muita perda na produção e por trabalharmos 100% com folhosas, nossas cultura queima com facilidade nesse frio", conta ela, que é presidente da Associação de Moradores e Pequenos Produtores Rurais da Microbacia Hidrográfica de Lúcios e Comunidades Vizinhas.

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Rosana afirma que há prejuízos para a região, mas que até agora não houve ajuda por parte do governo, já que não há visibilidade para o problema. 

"Quem faz esse levantamento é a Emater [Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural, ligada à Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento do Estado do Rio], mas ainda não tivemos ajuda por falta de visibilidade. Nas tragédias de 2011, houve mais esforço para ajudar. Agora, com as geadas, não houve ajuda e ficamos nesta situação", conta.

Preços

A produtora afirmou ainda que o que tem segurado os preços dos produtos para o consumidor é o fato de as folhosas serem menos consumidas no inverno, com exceção de verduras como couve mineira ou chicória. "No inverno, nossa produção já é mais difícil mesmo por conta do frio, mas agora está pior. Mas o consumo da cidade cai nessa época".

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Para o presidente da Associação de Hortifrutigranjeiros do estado (APHERJ), Carlos Alberto Lopes, há itens produzidos em outros municípios com risco de alta nos preços já nas próximas semanas e até após o fim do inverno. Ele explicou que o problema é estrutural e envolve a mudança climática que vem ocorrendo no país, já que tem havido demanda de outros estados por produtos fluminenses.

"As geadas provocaram atraso das colheitas. Com o aumento da demanda e queda na oferta, tivemos aumento nos preços. O frio em São Paulo, em Minas Gerais e no Sul do país fez com que esses estados viessem comprar nossos produtos", avalia o presidente da APHERJ.

O tomate é um dos itens que corre risco de sofrer novas altas. Na semana passada, a caixa de 20 quilos para as centrais de abastecimento das cidades aumentou de R$ 60 para R$ 70. Lopes acrescenta que o fator encarecedor do produto hortifrutigranjeiro para as cidades não é só o frio, mas os custos de produção.

"O plantio foi pouco e a tendência é, sim, de aumento do preço. Em Paty do Alferes e Vassouras, que plantam 7 milhões de pés de tomate por ano, a produção vai ser baixa. E o frio nessas regiões às vezes vai até novembro. Mas precisamos lembrar que os custos de produção estão cada vez mais inviáveis para o produtor. Precisamos de adubo, de insumos e de energia elétrica, que está cara", explicou o representante.

Edição: Mariana Pitasse