Minas Gerais

Coluna

A miscigenação não resolveu o racismo

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"É preciso fazer uma disputa hegemônica cultural e política em todos os campos." - Créditos da foto: Mídia NINJA
É preciso fazer uma disputa hegemônica cultural e política em todos os campos

 

A tão aclamada miscigenação racial brasileira não resolveu o racismo brasileiro, muito pelo contrário, colocou-o num lugar difícil de resolver. Ela embaralhou a questão de propósito.

Nesse domingo (18), um homem negro, trabalhador informal, foi capa da Folha de S.Paulo, cuja manchete, em letras garrafais, trazia o seguinte anunciado: Racismo perpetua fosso social no Brasil, mostram pesquisas.

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Os estudos indicam discriminação que vai de salário menor à disputa eleitoral, passando pela questão da estética. Os dados nos revelam que as mulheres brancas têm vantagem salarial de 14% em relação às mulheres negras. No caso dos homens, os brancos registram um ganho de 13% acima do recebido pelos homens negros.

A matéria da Folha de S.Paulo tem um viés economicista e liberal. Ela nos induz a um erro clássico. Muitos grupos caíram na armadilha. A armadilha consiste em acreditar que o capitalismo meritocrático, que foi importado dos Estados Unidos, vai resolver o problema. O economista Thomas Pikety fala que o Brasil é o país mais desigual do mundo. Portanto, a saída neoliberal, liberdade de mercado, só dará privilégios aos de sempre. Eles ganham a corrida antes da largada.

Precisamos entender também que a questão econômica e social é um dos elementos da discriminação, mas não só.

A democracia liberal burguesa muito espertamente criou uma maneira de eliminar a dialética nas lutas raciais brasileiras e nas opressões históricas. Aprisionando esses setores oprimidos num só lugar.

Há uma questão cultural hegemônica branca que está no inconsciente coletivo. Que passa pelo vestuário, pelo modo de falar, andar até a textura do cabelo. Talvez aí esteja o imbróglio que pouca gente entende.

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O racismo ultrapassa a questão social em larga escala. Não basta você ser rico ou miscigenado. Caímos nessa armadilha por séculos.

Por isso, é preciso fazer uma disputa hegemônica cultural e política em todos os campos. E muita política de reparação, principalmente, na educação e no mundo do trabalho.

É preciso entender o porquê do genocídio da juventude negra nas periferias.

Só assim você entenderá que a miscigenação não resolveu o racismo.

Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte

Edição: Larissa Costa