O Rio de Janeiro foi o estado mais impactado no item ocupação no mercado de trabalho no primeiro ano da pandemia, com queda de 14,28% no emprego entre o quarto trimestre de 2019 e o mesmo período de 2020. Nos últimos três meses de 2019 era de 44,2% e no quarto trimestre de 2020 passou para 37,89%.
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O estudo do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social/CPS) foi realizado a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnadc), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entre os empregados ocupados, o estado do Rio de Janeiro também foi onde houve maior mudança de local de trabalho (19,55%). São Paulo foi o quarto estado que mais teve mudança no local de trabalho (11,32%).
Segundo o diretor do FGV Social e coordenador da pesquisa, Marcelo Neri, uma das razões para o Rio de Janeiro ser um dos estados mais afetados tem relação com o fato de ser a unidade da federação com maior proporção de idosos na população. "A pessoa está exercendo a mesma atividade atividade em outro local", afirmou Neri à Agência Brasil.
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O estudo mostra que o setor de alojamento e alimentação teve a maior queda na taxa de ocupação por conta do isolamento social. Além de ter sido o setor mais afetado na pandemia, é um dos que menos têm direitos trabalhistas e que cujos trabalhadores ficaram sem proteção sobre a própria perda de emprego.
A pesquisa do FGV Social mostra, ainda, que as pessoas mais beneficiadas com a possibilidade de mudar os locais de trabalho foram as da classe AB (27,03%). Entre os pobres, o percentual era muito menos, de 7,96%. Por escolaridade, as pessoas com diploma superior eram 40,06% contra 6,71% daqueles com fundamental incompleto.
Informalidade
Segundo Neri, o Rio tem um efeito potente no mercado de trabalho que é a informalidade, que aumentou nos últimos anos. “O Rio aumentou 7 pontos de porcentagem nos anos que antecederam a pandemia. A proporção de pessoas que trabalham informalmente foi muito maior do que o 1,5 p.p que aumentou no Brasil, e a pandemia afeta muito o setor informal e o de serviços”, disse.
A possibilidade de trabalhar remotamente também deixou evidente uma desigualdade: a disponibilidade de internet é maior para as classes mais ricas. A pesquisa apontou que nas classes AB, 95% tinham internet em casa e os pobres eram 62%. "O home office é uma palavra bonita, mas não chega muito aos mais pobres", disse Neri.
As mesmas desigualdades são reproduzidas nas condições de fazer as aulas remotamente. Crianças de classe AB estudaram três horas por dia durante a pandemia, e crianças da classe mais pobre estudaram mais de uma hora. “Aumentou o papel da tecnologia, e aqueles que não tinham tecnologia ou qualificação para lidar com ela, ficaram para trás nesse processo. Mas tem ganhadores como a área de programação”, disse.
Futuro
Para o coordenador do FGV Social, o avanço da vacinação sinaliza para uma retomada da ocupação com a volta dos trabalhadores informais. Contudo, crianças e jovens que tiveram dificuldade de manter os estudos vão ser mais afetados para além da pandemia.
"O jovem que se formou e teve dificuldade de entrar no mercado de trabalho, depois de passar a pandemia precisa de um apoio. Não é uma coisa que passou a pandemia e passou tudo. Tem que ter políticas públicas para a recuperação da defasagem escolar e de oportunidades a esses jovens, para não ter a geração covid. Os efeitos são longos e as políticas também têm que ser longas. Tem que recuperar a defasagem escolar e de conhecimento. Então, tanto as políticas como os efeitos são de prazos mais longos, por isso, preocupam”, alertou.
Edição: Eduardo Miranda