LEVANTE PELA TERRA

"Fui agredida pela PM por ajudar um parente agonizando", diz mulher indígena no DF

Confira o relato de uma das dezenas de pessoas que sofreram violência policial em ato contra PL 490 em frente à Câmara

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

Ouça o áudio:

Kuana Aranduha, do povo Guarani Kaiowá, do estado do Mato Grosso, foi uma das vítimas da violência policial - Paulo Motoryn / Brasil de Fato

Kuana Aranduha, do povo Guarani Kaiowá, do estado do Mato Grosso, foi uma das vítimas da violência policial contra a manifestação de indígenas no Congresso Nacional, na tarde de terça-feira (22). O episódio ocorreu durante ato contra a aprovação do PL490 na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. 

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Nesta quarta-feira (23), ela conversou com a reportagem do Brasil de Fato e deu detalhes sobre a agressão sofrida. Segunda Kuana, a violência ocorreu no momento em que ela acudia um parente estirado no chão. 


Segundo Kuana, a violência ocorreu no momento em que ela acudia um parente estirado no chão / Paulo Motoryn / Brasil de Fato

A conversa foi gravada em nova vigília, com mais de 300 indígenas, em frente ao Anexo II da Câmara dos Deputados, em Brasília. 

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Kuana permitiu que a reportagem fizesse foto dos curativos em sua perna. Ela está mancando e afirmou que ainda sente dor na perna, onde teria uma "bola de sangue".

Procurada, a Polícia Militar do Distrito Federal (DF) não respondeu aos questionamentos até o fechamento dessa matéria.

A indígena está sendo atendida por uma médica no acampamento em que está alojada.

Leia o relato na íntegra:

"Meu nome é Kuana Aranduha, sou do estado de Mato Grosso do Sul, do povo Guarani Kaiowá. Ontem, a gente chegou aqui mobilizados contra esse PL 490.

Chegou uma hora que a polícia começou atacar de todos os lados e a gente ficou encurralado.

Tinha, de um lado, a Tropa de Choque, do outro lado, a cavalaria. Também tinham as polícias camufladas, né?

Eles foram atirando e os parentes caindo, muitos machucados. Vi meus parentes agonizando. Foi aí que caiu um do nosso lado e a gente tentou ajudar, ficar em volta dele para protegê-lo. Ele estava estirado no chão. Bem nessa hora foi que eu fui atingida, né?

Eu não sei nem dizer o que né atingiu. Mas sei que é um metal redondo. Foi com um tiro disso que eu fui atingida.

A sorte é que eu estava de calça. Felizmente, a calça ajudou. Mas, depois que tirei a calça, estava muita inchado e com uma bola de sangue.

Só fui ser atendido por uma médica no postinho do acampamento em que estamos."

 

Edição: Vivian Virissimo