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Vitória contra o preconceito e o obscurantismo

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Apenas duas organizações estão autorizadas a plantar Cannabis para produção medicinal; uma delas, a Abrace, oferece opções de óleos a partir de R$ 80 - Divulgação/Abrace
As forças que se alimentam do preconceito e da desinformação ainda não se deram por vencidas

O obscurantismo instalado no país desde a eleição de Jair Bolsonaro fez o país retroceder à Idade Média, quando a ciência era submetida aos costumes e crenças dos mandatários da igreja ou dos estados.  Ele se manifesta, por exemplo, na postura negacionista dos que ignoram a gravidade da pandemia de covid-19 e combatem a vacina, embora este seja o único meio de nos resgatar dessa tragédia.

Mais recentemente, o obscurantismo por pouco não negou a milhares de pessoas um tratamento que poderia aliviá-las de sofrimentos inomináveis. Com apenas um voto de diferença – graças ao desempate do presidente da Casa –  uma comissão especial conclusiva da Câmara dos Deputados aprovou o projeto que autoriza a liberação do cultivo controlado no Brasil da cannabis sativa para fins medicinais e científicos.

Essa é uma conquista daquelas que devem ser reafirmadas a cada dia, pois as forças que se alimentam do preconceito, da desinformação e da discriminação ainda não se deram por vencidas e devem investir pesado para tentar levar o projeto para a votação em plenário, ainda que já estivesse  determinado que, se aprovado pela comissão especial, deveria seguir direto para o Senado.  

Para essas forças, não importa que o uso medicinal da cannabis já seja permitido em 50 países, nem mesmo que a autoridade sanitária dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) já tenha aprovado produtos oriundos da cannabis sativa. Só os preconceitos contam. Aliás, nem mesmo a legislação nacional importa, visto que o plantio de cannabis para uso medicinal e científico já é previsto no Brasil desde 2006, pela Lei nº 11.343, chamada Lei de Drogas, aprovada no governo Lula.

Enquanto negacionistas tentam esvaziar o projeto, milhares de pessoas que sofrem com dores crônicas, epilepsia, glaucoma e até câncer, sem encontrar alívio em outras terapêuticas, penam para conseguir importar medicamentos a base de cannabis. Além de paciência para enfrentar a burocracia, precisam ter muito dinheiro. Tudo isso porque se construiu o entendimento equivocado de que “quem usa cannabis é maconheiro e todo maconheiro é bandido”.

Mas, felizmente, a maioria da população parece não compartilhar dessa opinião. Uma pesquisa divulgada em maio deste ano pela revista Exame e Instituto Ideia mostra que 78% dos brasileiros aprovam o uso medicinal da cannabis e usariam medicamento com essa substância se fosse indicado pelo médico. Moral da história: o preconceito histórico contra a cannabis parece estar com os dias contados e os parlamentares precisam entrar em sintonia com a população se não quiserem ser sepultados pela história.

Já está na hora de a maconha deixar de ser caso de polícia para se tornar questão de saúde pública no Brasil. Em vez da guerra insana contra o entorpecente, que tem deixado um rastro de mortos pelo caminho, empreendamos a luta em favor do uso da cannabis, respaldado pela ciência. Assim, em vez de vítimas, poderemos ter uma fileira de vidas salvas e plenas.

Edição: Vinícius Sobreira