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Pra trás Brasil, salve a seleção!

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Além disso, o caminho para uma terceira opção entre Lula e Bolsonaro parece finalmente fechado, enquanto a própria direita bate cabeça sobre o que fazer com o seu capitão - Fábio Rodrigues Pozzebom / Fotos Públicas
Depois de três anos, Bolsonaro perdeu o monopólio da iniciativa política, das ruas e das redes

Olá! Os tempos de Médici parecem estar de volta: enquanto o país sofre com inflação e desigualdade e sonha com democracia, o governo aposta nas forças armadas, num surto de crescimento econômico e num campeonato de futebol.

 

.Confusão na geral. O cenário nacional é tão errante quanto a fala de Bolsonaro em cadeia nacional. Ele criticou as medidas restritivas, defendeu a vacinação, falou em recuperação econômica, criação de empregos, prometeu privatizações e exaltou a Copa América. Não surpreende que o Ministério das Comunicações venha gastando mais com campanha de volta às atividades do que com a campanha de vacinação. O problema é que a realidade bate à porta. A terceira onda da pandemia já começou com o aumento do número de internações em hospitais e o colapso em treze estados, com filas e ocupação das UTIs acima de 80%. Até mesmo o ministro Marcelo Queiroga já admite isso, mas responsabiliza as novas cepas do vírus e não a desastrosa política governamental. É neste cenário que vai ocorrer a Copa América, e para Bolsonaro não importa que as cidades que receberão os jogos não vacinaram nem 15% da sua população. O absurdo é tamanho que até Arthur Lira mostrou-se contrariado. Mas ainda que o STF tenha pedido explicações, dificilmente a decisão será revertida. A decisão de Bolsonaro ajudou a impulsionar um panelaço durante seu pronunciamento e uma nota de repúdio de membros da CPI da Covid. Porém, enquanto a esquerda recupera a iniciativa nas ruas, a CPI perdeu o embalo. Esta semana, o debate em torno do uso da cloroquina acabou tirando o foco de temas mais importantes e favorecendo o governo. Os depoimentos de Mayra Pinheiro e Nise Yamaguchi deram voz ao negacionismo e não trouxeram grandes novidades. Os depoimentos agendados para a próxima semana devem recolocar em pauta a crise sanitária ocorrida em Manaus, que ganha força com a operação da PF contra o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC). Enquanto isso, o Senado e o STF tentam resolver o impasse sobre a convocação dos governadores para depor na CPI. Ou seja, há um descompasso entre o movimento da pandemia, das ruas e das instituições que agrava a imprevisibilidade.

 

.Milagre em gotas. A economia brasileira cresceu 1,2% entre janeiro e março, mais do que a maioria dos analistas projetava. O resultado divulgado na última terça-feira (1º) levou o mercado financeiro à euforia, com alta na bolsa e queda do dólar. Com o resultado, os bancos também se mostram otimistas: Itaú, Citi Brasil e Goldman Sachs projetam um crescimento em torno de 3% a 5% do PIB em 2021. Seria um pequeno milagre econômico considerando o desempenho dos últimos anos. Porém, segundo Juliane Furno, o resultado deve ser relativizado, pois não recupera as perdas ocorridas na pandemia, além de ser puxado pelas exportações de commodities, que agregam pouco valor à cadeia produtiva. Já para Paulo Kliass, o resultado deve servir de alerta para a oposição, pois ele desmente a perspectiva de uma recessão permanente e prolongada. O desempenho econômico pode dar alguma margem de manobra para o governo fazer algum tipo de política compensatória, como o Programa Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas e talvez aumentar para R$400 o valor do auxílio emergencial. Relatório da OCDE afirma que o desempenho brasileiro é reflexo da recuperação mundial liderada pela China e pelos Estados Unidos, mas lembra que isso depende do controle da pandemia. Parece que só Bolsonaro ainda não entendeu essa parte. Além do atraso na vacinação e da terceira onda da pandemia à vista, a crise energética e a possibilidade de um apagão podem minguar as vacas gordas. E de resto, com ou sem crescimento, a desigualdade social deve continuar crescendo. Como se sabe, nem mesmo a pandemia atinge todos da mesma forma. Estudo mostra que na capital paulista a maior parte dos que perderam a vida foram trabalhadores em condições precárias. Cercada pela monocultura exportadora, a fome avança no meio rural, o desemprego segue crescendo, e é provável que a renda dos mais pobres continuará sendo achatada pelo processo inflacionário.

 

.Esse jogo não é 1 a 1. Depois de três anos, Bolsonaro perdeu o monopólio da iniciativa política, das ruas e das redes sociais. Com um único ato, a oposição pela esquerda marcou vários pontos: demonstrou que o antibolsonarismo hoje é mais forte do que o antipetismo; pode dar novas forças para a CPI da Covid depois de semanas mornas; e apesar do impeachment ainda estar distante, a declaração de Arthur Lira sobre isso é justamente o sinal de que a fatura do centrão vai ficar mais cara. Além disso, o caminho para uma terceira opção entre Lula e Bolsonaro parece finalmente fechado, enquanto a própria direita bate cabeça sobre o que fazer com o seu capitão. Superando o dilema de protestar nas ruas ou não, a oposição de esquerda chamou novos atos para o dia 19. O sucesso dos protestos também se mede pela pífia reação de Bolsonaro, não apenas pelos comentários infantis, mas principalmente pela incapacidade de criar fatos políticos. Somado a isso, a possível queda de Benjamin Netanyahu em Israel pode consolidar seu isolamento internacional. A grande novidade é a possível filiação de Bolsonaro ao nanico Patriota do Cabo Daciolo, e ainda assim sob protestos dos novos correligionários, depois ter fracassado em criar o Aliança pelo Brasil e em ser aceito em outras nove legendas. Por ironia do destino, Bolsonaro acabará nesse que um dia já foi chamado de Partido Ecológico Nacional (PEN). Em breve, ele terá que decidir também a indicação de uma única vaga ao STF, prometida tanto para evangélicos quanto para setores do judiciário onde dormem os processos de seu filho Flávio. Por fim, os bolsonaristas também convocaram novos atos, com a esdrúxula bandeira do voto impresso, mas agora precisam colocar mais gente do que os atos da esquerda por vacina e auxílio emergencial. 

 

.Meu incompetente favorito. Acuado politicamente, mais uma vez, Bolsonaro foi salvo pelos militares. A nomeação do general Eduardo Pazuello para a Secretária de Assuntos Estratégicos reverteu a opinião do comandante do Exército e dos outros quinze generais de quatro estrelas por uma punição, acatando a ridícula justificativa de que, como Bolsonaro não está filiado a um partido, o ato não foi político. Pode ter pesado na decisão as mordomias dos 6 mil militares em cargos no Executivo, alguns deles ganhando acima do teto constitucional e outros tantos de olho em uma milionária bolsa de pesquisa no exterior. Pode ter sido apenas para abafar a crise e evitar o segundo confronto em dois meses entre o chefe do Executivo e as forças armadas, o que resultaria na própria demissão do general Paulo Sérgio. O certo é que os militares confirmam a imagem de “meu exército” que Bolsonaro faz das forças armadas e demonstram que eles vão até o fim com o capitão e o general. Com isso, o processo aberto pelos deputados do Psol contra a nomeação de Pazuello provavelmente não dará em nada. Somado ao comportamento letal e fiel dos PMs e a possibilidade do governo federal continuar insuflando esta base contra a oposição, o sinal é perigoso e acena para a histórica impunidade para quem veste farda no Brasil. Aliviado, o general cloroquina já é até sondado pelo Patriota para disputar o governo do Rio. Não muito longe dali, Ricardo Salles torce para contar com o mesmo empenho do chefe. Desde a operação que investiga o favorecimento de madeireiros ilegais, oito assessores do ministério foram exonerados e agora a ministra Carmem Lúcia aceitou o pedido para abertura de inquérito para investigar o ministro. Na sua defesa, Salles responsabilizou o general Luiz Eduardo Ramos, na época na Secretaria de Governo, pelo encontro com os madeireiros. Fiel ao governo, a estratégia de Salles parece ser a de se esconder atrás do irmão maior, no caso, o exército.

 

.Ponto Final: nossas recomendações.

.A nova década perdida. O economista Edemilson Paraná escreve sobre a pior década econômica em 120 anos e as duas fortes recessões que desindustrializaram o país.

.Poderá o precariado assombrar o capital?. No Outras Palavras, Leo Vinicius Liberto se pergunta se a nova composição da classe trabalhadora dará impulso a um novo ciclo de lutas.

."Fui traído pela Uber": a história do 1º motorista a vencer a empresa em um tribunal. O Brasil de Fato entrevista o primeiro motorista brasileiro a ter vínculo empregatício reconhecido com a plataforma.

.Pastor Henrique Vieira: "Generalizar o campo evangélico é um equívoco de análise”. Pastor da Igreja Batista do Caminho pede que os evangélicos não sejam vistos como um bloco uniforme, mas plural e principalmente formado majoritariamente por trabalhadores.

.Larissa Bombardi: "Não vou colocar minha cabeça, nem a dos meus filhos a prêmio". Professora  de Geografia da USP relata como a publicação de sua pesquisa sobre o uso de agrotóxicos a levou ao exílio.

.Margaret Atwood: “As utopias voltarão porque precisamos imaginar como salvar o mundo”. Autora da premiada distopia “Conto da Aia”, a escritora canadense fala sobre feminismo e utopia para o El País.

 

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Ponto é uma publicação do Brasil de Fato. Editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

Edição: Vivian Virissimo