Rio de Janeiro

DOUTRINAÇÃO

Prefeitura do Rio exonera direção de escola civil-militar por propaganda bolsonarista

Em ato de hasteamento da bandeira, gestor estimula alunos a gritarem "Brasil acima de tudo e abaixo de Deus"

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Escola civil-militar
Sindicato dos Profissionais de Educação do RJ afirma que modelo militar não contribui para diversidade e formação de cidadãos com capacidade crítica - Reprodução

A Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro exonerou na última terça-feira (25) toda a equipe gestora da Escola Civil-Militar Carioca General Abreu, no Rocha, bairro da Zona Norte da capital fluminense, por promover aglomeração de alunos e propaganda partidária do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Em vídeo que circulou nas redes sociais, os alunos são obrigados a gritar junto com um dos integrantes da equipe da escola o lema da campanha bolsonarista "Brasil acima de tudo e abaixo de Deus". O ato ocorreu no pátio da unidade durante hasteamento da bandeira. "Nós somos nós e o resto é o resto", gritam os alunos, estimulados pelo gestor da escola.

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O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do estado (Sepe-RJ) informou que vai acionar o Ministério Público Estadual (MPE), a Comissão de Educação da Câmara de Vereadores e a Secretaria Municipal de Educação (SME) para que apurem a denúncia recebida sobre a quebra dos protocolos sanitários e a doutrinação de alunos durante atividade no pátio da escola.

O Sepe-RJ afirmou que o ato "se configura claramente numa atitude contra os princípio educacionais, com utilização de slogans do governo federal (“Brasil acima de Tudo, Deus acima de todos), deixando claro também que os estudantes da escola seriam privilegiados em relação aos alunos da rede regular (“Nós somos nós. E o resto é o resto!)".

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A entidade também alertou para a tentativa de criação de uma rede de ensino à parte da rede municipal de educação com unidades militarizadas que submetem os alunos à doutrinação, retirando deles a individualidade e a capacidade de autodesenvolvimento. Segundo o Sepe-RJ, esse modelo de escola "não atende à diversidade e não contribui para a formação de cidadãos com capacidade crítica".

Presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), o deputado Flávio Serafini (Psol) classificou a cena como "surreal" e afirmou que os defensores do projeto "Escola sem partido" são os mesmos que fazem campanha para Bolsonaro e negam os protocolos sanitários para enfrentamento da pandemia da covid-19.

"Aqueles que queriam censurar professores com uma ideia de 'Escola Sem Partido' hoje aglomeram crianças no meio da pandemia e doutrinam os jovens com o slogan de um presidente fascista e genocida. Cada vez mais Pedagogos com formação em Educação perdem espaço nas escolas para militares sem formação técnica para a área que ganham gordos bônus salariais e aumentam ainda mais seus vencimentos", criticou Serafini.

Edição: Eduardo Miranda