Mais de 100 alunos e ex-alunos da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) manifestaram, nesta semana, repúdio à nomeação de Eduardo Rios Neto para a presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A indicação para o cargo, divulgada na terça (27), foi feita pelo governo de Jair Bolsonaro após Susana Guerra ter pedido exoneração há cerca de um mês, motivada pelo corte de recursos para o Censo. Eduardo Rios Neto é professor titular aposentado da Face / UFMG.
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A nota, que ainda segue colhendo assinaturas, afirma que o cancelamento do Censo 2021, que é a maior pesquisa domiciliar do país, é um marco fundamental no projeto do atual governo de desmonte de universidades públicas e das instituições de pesquisa nacionais.
Além disso, acrescenta que ao se vincular irrevogavelmente ao governo, ao assumir a presidência do IBGE, Rios Neto assume parte da responsabilidade pelo que está acontecendo com a ciência, com a política pública e com a democracia no país.
“Lamentamos muito profundamente que um professor da Face contribua com todo esse processo - seja pela crença cega nos discursos tecnicistas, seja pelo cinismo que abate parte da comunidade acadêmica. Não podemos deixar que esse fato passe despercebido - como tantas outras empreitadas escusas que usam a universidade pública e seus recursos como plataforma e se escondem atrás de uma interpretação elástica da ‘neutralidade’ e da ‘objetividade’ da ciência”, diz o texto.
Cancelamento do censo
Na semana passada, o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues Junior, declarou que a pesquisa não seria realizada neste ano. O Orçamento 2021, aprovado pelo governo federal, prevê um corte de 96% nos recursos destinados à realização do Censo. No entanto, essa semana o Supremo Tribunal Federal (STF) tomou decisão que obriga o governo a realizar o censo ainda esse ano.
Segundo a nota, a aceitação de Rios Neto do cargo faz uso da reputação científica do Cedeplar e da UFMG para legitimar decisões políticas do governo de Jair Bolsonaro, que vinham sendo combatidas pela comunidade acadêmica e por funcionários do IBGE. Os signatários enfatizam que é legítima a associação de membros do corpo docente do Cedeplar e da FACE, bem como das universidades públicas em geral, a governos federais, estaduais e municipais.
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“O que não é legítimo, entretanto, é a associação a um governo genocida, anti-cientificista e declaradamente inimigo da universidade e das instituições nacionais de ensino e pesquisa. É lamentável o fato de que um professor sênior, que construiu sua carreira através e dentro da universidade pública, fazendo uso do material que o IBGE sempre produziu, tenha se associado de forma tão escancarada ao desmonte de instituições importantes para a atividade científica nacional e dê respaldo científico a decisões políticas tão deletérias para a ciência nacional”, diz o texto.
Edição: Elis Almeida