Meio Ambiente

Quem é a indígena que fez discurso morno na Cúpula do Clima sem citar Bolsonaro

Sineia Wapichana falou sobre mudanças climáticas e evitou citar o presidente e Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
"Precisamos estar atentos para esses acordos entre todas as nações do mundo. Para ser cumprida, de fato, a parte da legislação brasileira sobre a mudança do clima", disse Sineia do Vale durante fala em painel da Cúpula - Foto: Reprodução

Convidada por Joe Biden, presidente dos EUA, para falar na Cúpula do Clima, nesta quinta-feira (22), Sineia Bezerra do Vale, integrante do povo Wapichana, não citou o nome do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e nem Ricardo Salles, ministro do Meio do Ambiente, nos mais de sete minutos de seu discurso.

Bolsonaro e Salles são alvos constantes de ambientalistas e lideranças indígenas, críticos da condução das políticas ambientais do país, que resultaram, por exemplo, em desmatamento recorde da Amazônia em 2020. O discurso do presidente na Cúpula do Clima, também nesta quinta (22), foi criticado por defensores do Meio Ambiente. Na última quarta (21), houve uma campanha no Twitter pela saída do ministro.

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Durante seu discurso, Vale falou sobre a preservação das florestas brasileiras. “A questão da mudança climática não vai chegar. Ela já chegou nas comunidades indígenas. Precisamos estar atentos para esses acordos entre todas as nações do mundo. Para ser cumprida, de fato, a parte da legislação brasileira sobre a mudança do clima”, pediu a indígena, que fez o discurso na sede da entidade que coordena, o Conselho Indígena de Roraima (CIR), em Boa Vista.

Ainda sobre as mudanças climáticas, Vale afirmou que a preservação das florestas são importantes para os indígenas de todo o planeta, não apenas os brasileiros. “Não isentamos a questão dos direitos. Não está desconectado da gestão do território. As mudanças climáticas, como é chamada nos grandes eventos como a COP e este tão importante de hoje, é chamada pelos povos indígenas de a transformação do tempo”.

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Vale lamentou que os diversos grupos indígenas brasileiros não tenham assento nos espaços que legislam sobre o tema no país. “É muito difícil para nós, pois quando há um debate tão importante sobre a mudança climática, não temos acesso aos diferentes espaços onde esses temas são debatidos. Portanto, não conseguimos passar nosso conhecimento ancestral e tradicional”.

Sineia Wapichana participou do painel “Ação Climática em Todos os Níveis”, mediado por Michael Regan, administrador da Agência de Proteção Ambiental dos EUA. Durante o encontro, que não teve a participação de Biden, a ambientalista denunciou a perseguição aos povos indígenas no Brasil, sem citar Salles, Bolsonaro e outros nomes do atual governo.

Quem é Sineia Wapichana

Além de coordenadora do CIR, Sineia é figura central na fundação e administração de outras entidades que cooperam para o reconhecimento de territórios indígenas e também realizam pesquisas científicas, como o Comitê Gestor da Política Nacional de Gestão (PNGATI), do qual foi coordenadora da Câmara Técnica de Mudanças Climáticas.

Vale, que também é integrante do Comitê Indígena de Mudanças Climáticas da Articulação os Povos Indígenas do Brasil (Apib), organizou, em 2014, o estudo “Amazad Pana’Adinham: percepção das comunidades indígenas sobre as mudanças climáticas. Região Serra da Lua – RR”, a primeira publicação indígena brasileira sobre mudanças climáticas.

Edição: Poliana Dallabrida