Na última segunda-feira (19), o Brasil de Fato noticiou o caso da apostila didática, da disciplina Educação Física, distribuída pela Secretaria Estadual de Educação (Seeduc) do Rio de Janeiro para alunos de Ensino Médio, com trecho sobre suposto “risco” que a homossexualidade pode causar.
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O fragmento do material afirma que "a homossexualidade também pode ser um fator de risco para um transtorno alimentar, devido à preocupação com estética". A denúncia foi feita nas redes sociais, na quinta-feira (15), pela página do Facebook "Frente contra o ensino remoto", que reúne professores do estado do Rio.
Nesta quinta-feira (22), o presidente e a vice-presidente da Comissão de Combate às Discriminações e Preconceitos de Raça, Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional da Assembleia Legislativa do Estado Rio de Janeiro (Alerj), Carlos Minc (PSB) e Mônica Francisco (Psol), protocolaram um requerimento de informações ao secretário estadual de Educação, Comte Bittencourt, cobrando explicações.
“Escola não é lugar de violência. O recebimento de um material que expressa evidente LGBTIfobia representa uma violência extrema tanto para estudantes LGBTIs quanto para profissionais da educação LGBTIs. A população LGBTI tem sua saúde mental afetada pelas diversas violências e processos de expulsão sofridos no cotidiano. Por outro lado, é fundamental discutir a pressão estética nas escolas a partir do machismo e do racismo. É preciso considerar a diversidade dos corpos”, destacou a deputada.
De acordo com a Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil, realizada pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) e pelo Grupo Dignidade, em 2016, mais de um terço de alunos LGBT sofreram agressão física na escola. O relatório aponta ainda que 73% foram agredidos verbalmente e 36% foram agredidos fisicamente.
Logo após a repercussão negativa do caso, a Seeduc retirou o documento do aplicativo Applique-se, que vem sendo utilizado como plataforma de ensino para alunos da rede estadual durante a pandemia da covid-19. No entanto, a versão impressa que havia sido distribuída permanece com o trecho.
"Homossexualismo"
Nas fontes bibliográficas ao final da apostila, há o link de onde foi retirada a refência que relaciona o transtorno alimentar à homossexualidade. Ele é de autoria de Ester Zatyrko Schomer, psicóloga de São Paulo que possui artigos sobre o tema e nos quais ela utiliza o termo "homossexualismo".
O sufixo "ismo" designa algum tipo de patologia, por isso a palavra foi abandonada e se prefere "homossexualidade". A ideia de homossexualidade como distúrbio foi excluída da lista da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1991.
O Brasil de Fato questionou a Seeduc sobre o teor do material, qual foi o procedimento ao tomar conhecimento do texto da apostila e se houve revisão do material didático antes que ele chegasse aos alunos da rede estadual fluminense. Mas a Secretaria não se manifestou sobre o caso.
Edição: Mariana Pitasse