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Coluna

Um parênteses na histórica luta de classes para o enfrentamento contra a covid-19

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É preciso unidade para preservação da vida dos trabalhadores - Divulgação
"Sem trabalhadores não há trabalho. Sem trabalhadores não há o ganancioso sistema capitalista"

Para aqueles que têm uma leitura econômica e política mais aprofundada da sociedade, sabem que vivemos uma eterna luta de classes. De um lado os que vivem da venda da sua força de trabalho, as trabalhadoras e trabalhadores, e de outro os que praticam a exploração e extraem a mais-valia da força de trabalho daquela mesma classe trabalhadora. Quando falamos aqui de exploração falamos do grande capital financeiro e do grande empresariado industrial nacional e internacional.

Historicamente, vivemos essa luta de classes, desde os tempos da Revolução Industrial, que derrubou e colocou um fim à relação social que sustentava o feudalismo na Europa, que era a relação entre os suseranos e vassalos que sustentavam os ducados, condados e reinos espalhados pelo velho continente. A partir dessa revolução e com o surgimento dos grandes centros industriais, os trabalhadores deixaram de desenvolver seus trabalhos artesanais e passaram a desenvolver trabalhos coletivos nas fábricas, dando origem à classe operária e, consequentemente, à organização sindical. Aqui não queremos discutir modos de produção, mas constatar que vivemos nos dias atuais sob a égide do modo de produção capitalista.

Neste sentido buscamos fazer uma leitura reconhecendo o nosso lugar na História e também entendendo o que a pandemia mundial de coronavírus tem causado de problemas para a classe trabalhadora. Não que a classe trabalhadora não estaria como está, enfrentando problemas terríveis causados pelo próprio sistema, por sua ganância avarenta calcada na lógica do capital, que é a busca incessante do lucro, se não estivéssemos em período de pandemia. E isso é demonstrado pela política de desmonte do Estado brasileiro implementada pelo golpe parlamentar e institucional de agosto de 2016.

E a ofensiva do Capital após o golpe de 2016 se mostra por meio de mudança total das políticas de governo, implementando as reformas trabalhistas e da previdência, além da aplicação das terceirizações sem limites aliadas ao esvaziamento das políticas públicas, congelando investimento, sucateando setores estratégicos e lucrativos sob o controle do Estado. Muito deles como os bancos públicos (Banco do Brasil, Caixa Econômica, bancos estaduais e regionais), que ainda servem de indutores de desenvolvimento e como agências físicas importantes para fazer com que as políticas públicas cheguem até a ponta onde está a maioria das pessoas que precisam das políticas públicas de Estado.

E essa guinada é sentida também com implantação de um governo de desmonte aprofundado pela política de terceirizações sem limites, que impõe as reformas trabalhistas e da previdência, casadas com a diminuição do papel do Estado, com implementações de leis que engessam o papel do Estado e os investimentos no serviço público de qualidade para a população; desqualificam sistemas importantíssimos com o Sistema Único de Saúde, o SUS; diminuem as necessárias políticas públicas para o povo que mais precisa delas e impõe teto de gastos e responsabilidade fiscal.

Uma balela inventada para facilitar o pagamento de juros sobre juros aos credores da dívida pública. São os próprios capitalistas, leia-se: os grandes empresários da cidade e do campo, que compram os títulos da dívida e indicam os postos chaves na composição do governo pelo fato de estarem ocupando essas posições estratégicas em troca de a cada dois anos financiarem as milionárias campanhas dos legislativos e executivos.

E são os mesmos indicados para esses postos chaves na economia é que determinam a política de juros que o Brasil adotará, fazendo girar a grande roda do sistema financeiro. Haja vista a recente aprovação pelo Congresso Nacional da autonomia e independência do Banco Central brasileiro, deixando o “deus” mercado, senhor do sistema financeiro nacional, sem nenhum tipo de amarra ou responsabilidade de responder pela condução do Banco Central. Afinal, os dirigentes indicados ao BC terão mandatos de quatro anos, sempre sendo indicados pelo no último ano mandado do presidente, que antecede as eleições presidenciais.

Não vivemos mais os tempos das lutas de classes inauguradas no pós-revolução industrial, que deu a condição de existência ao capitalista, mas também deu condição à existência da organização da classe trabalhadora organizada, com o surgimento dos sindicatos e das associações de classe, inclusive das associações de classe patronais. Hoje vivemos tempos de capital especulativo, em que a compra de títulos podres de governos passou a ser mais importante que o investimento na produção, no crescimento econômico e estratégico do país, na geração de empregos que fazia com que os empresários fossem mais poderosos, dado o tamanho de suas fábricas. Mas isso foram em outros tempos.

Enfim, vivíamos em tempos anteriores à pandemia, tempos de capitalismo selvagem e reedições de regimes neoliberais que propõem Estado mínimo e a busca das privatizações de tudo que possa dar um mínimo de lucro à iniciativa privada: como dos bancos públicos nacionais, regionais e estaduais que restaram. Dos Correios, do Sistema Telebrás, da Petrobrás, da ciência, das águas, das hidrelétricas, dos serviços públicos, da educação, da saúde, do SUS que insisti em sobreviver, pois é um exemplo para o mundo, mesmo com as diversas e constantes tentativas de seu desmonte para dar lugar aos hospitais privados e aos planos de saúde nacionais e internacionais.

Mas a pandemia de coronavírus, sem precedentes na história mundial, veio e ameaça o capital. Pois sem trabalhadores não há trabalho. Sem trabalhadores não há o ganancioso sistema capitalista. E numa pandemia como essa que enfrentamos já há mais de 1 ano e que não para de se alastrar por todos os cantos, o Estado voltou a ter papel social. Pois o capitalismo não resolve problemas sociais, ele os cria.

Então, aqueles que historicamente defenderam uma política de Estado mínimo, uma política de grande reserva de mão de obra para que baixe o preço da força de trabalho e assim possam extrair de uma forma cruel das trabalhadoras e trabalhadores a mais-valia precisa refletir sobre o modelo que querem implantar.

E isso traz dificuldades, não morais, pois o capitalismo não as tem, mas sim dificuldades operacionais para o sistema capitalista, pois não dá para deixar milhões de trabalhadoras e trabalhadores morrerem de fome. É aí que entra a necessidade de se fazer uma pausa na luta de classes, que se configura pela resistência das trabalhadoras e trabalhadores e na ofensiva gananciosa dos patrões.

Essa pausa é necessária para que possamos sobreviver ao vírus. E para que isso aconteça é necessário um esforço nacional que envolva a todas e todos, que envolva governos, patrões e empregados em defesa da vida, em defesa da continuidade do auxílio emergencial para que aqueles que já sofrem com reduções de salários e de direitos possam enfrentar os períodos mais duros da pandemia com um mínimo de dignidade. Se a sociedade observar que todos, governos, patrões e empregados estão juntos no combate necessário para acabar com a pandemia, com certeza irá responder positivamente às orientações sanitárias, inclusive às mais drásticas de bloqueios sanitários (lockdown), paralisações de transportes coletivos quando se fizerem necessários, campanhas educativas formuladas de forma tripartite.

A sociedade como um todo precisa ver que os esforços altruístas feitos necessitam ser coletivos em dar condições para que todas e todos enfrentem esse período com dignidade. Esse esforço e esses parênteses na luta de classes, nós trabalhadores já nos propusemos a eles desde o ano passado, tomando iniciativa de conversar com o Congresso Nacional, Câmara e Senado, de construir políticas que amenizassem o sofrimento de muitos, como o auxílio emergencial digno, que acabou por pressão sendo de R$ 600 e de R$ 1200 quando a mulher fosse chefe de família, mesmo o desgoverno Bolsonaro procurando jogar na contramão da ciência e das orientações sanitárias internacionais.

O apelo a fazer esses parênteses foi proposto e chamado pelas forças populares e progressistas da sociedade. Agora, é preciso que o grande capital deixe de lado a avareza e a ganância que lhe é própria, pelo menos enquanto enfrentamos a pandemia de coronavírus, para que possamos preservar a vida das pessoas. Afinal, como afirmamos anteriormente, sem trabalhadoras e trabalhadores não há o trabalho e sem o trabalho não há o capital e a exploração. Neste sentido é que o esforço tem que ser coletivo e os trabalhadores já deram seu quinhão e não podem ficar constantemente ameaçados pela economia, pois nessa guerra mundial contra o coronavírus, os CPFs são muito mais importantes que os CNPJs. Estamos numa situação limite em que nos próximos dias atingiremos mais de 350.000 mil mortes por coronavírus e o quadro que as autoridades sanitárias passam é que ainda estamos numa curva crescente do contágio e das mortes, com o surgimento de nossas cepas do vírus e a vacinação andando a passos extremamente lentos.

Todo esse grave quadro que vivemos leva à necessidade da adoção de medidas mais drásticas e extrema de combate à pandemia, como a implementação de bloqueios sanitários (lockdown) estaduais, quiçá se não precisemos ainda de uma parada geral na produção e nas atividades não essenciais por um período razoável para que se baixe a curva do avanço do contágio e do número de mortes. Por isso colocamos que se não houver uma união nacional de todos os setores da sociedade a projeção dos cientistas é que no ritmo das mais de 3mil mortes diárias se chegue a uma situação catastrófica no Brasil com mais de 600.000 óbitos pela doença em poucos meses.

Por isso é imperativo que esses esforços coletivos sejam imediatos, que essa trégua na luta de classes seja feita por patrões e trabalhadores, capitaneados pelos governos estaduais e prefeituras e por suas autoridades sanitárias e não somente de forma unilateral: somente pelos trabalhadores, que desde os primeiros dias da pandemia no Brasil têm proposto isso, enquanto o governo federal e alguns estaduais só dão ouvidos ao “deus” mercado e aos predadores capitalistas, que não se importam com as vidas, somente com o lucro.

Edição: Pedro Carrano