Minas Gerais

PANDEMIA

Artigo | “Camarote da vacinação” atropela prioridades defendidas pela ciência

Governantes têm que procurar ser justos, o que inclui dizer não e assumir desgastes

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |
O “camarote da vacinação” agravará o problema ao atropelar o Plano Nacional de Imunização (PNI), do SUS - Créditos da foto: Daniel Castellano / SMCS

Até o momento 59% dos idosos acima de 60 anos tomaram a primeira dose da vacina contra a covid-19 em Belo Horizonte. A capital mineira tem uma população estimada de 2.521.564 de pessoas (IBGE – 2020), estimada porque o censo populacional é feito de 10 em 10 anos e em 2020 não foi realizado. O IBGE responsável por este levantamento vem sofrendo com o desmantelamento do Governo Federal, como corte no Orçamento, falta de concurso público e troca de comando.  

Dados divulgados pelos governos, IBGE e na imprensa informam que em MG há mais de 3,7 milhões de idosos acima de 60 anos (G1/IBGE - 08/2020), isto representa 17,38% da população estimada de Minas Gerais. Trazendo este percentual para Belo Horizonte, pode-se estimar 438.169 pessoas acima de 60 anos na cidade, conforme se pode verificar no quadro abaixo. 


Tabela elaborada pelo autor do texto / Reprodução

Em dados atualizados em 7/4/2021 reunidos no quadro abaixo, a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH) informa que foram destinadas ao município 721.790 doses de vacinas contra a covid- 19, deste total foram distribuídas 80,68% deste imunizante e, ainda, foram aplicadas 467.177 doses. O que representa 64,71% das doses destinadas a BH.

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Tabela elaborada pelo autor do texto / Reprodução

Levando-se em conta que a população estimada de idosos acima de 60 anos de Belo Horizonte, com base no número de idosos de MG (17,38%), seja de 436.169, pode-se concluir que 59,23% dos idosos foram vacinados.

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É importante ressaltar que a base para incluir os idosos na lista de prioridades é cientifica e matemática, pois 80% das mortes por covid são de pessoas acima de 60 anos.  

Governo federal vem cedendo a pressões de categorias sem nenhum argumento técnico e científico para furar a fila

Agora, os governos das três esferas, principalmente o federal, vêm cedendo a pressões de categorias mais organizadas, sem nenhum argumento técnico e científico, para furar a fila, deixando os mais veneráveis morrerem na fila de vacinação.

É o que fez a Câmara dos Deputados ao aprovar o Projeto de Lei (PL) 948/2021, que criou o chamado “camarote da vacina” e abriu espaço para empresários furarem a fila da imunização contra a covid-19. Também a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), na quarta-feira (7), aprovou projeto que libera a compra de vacinas por empresas.

O “camarote da vacinação” agravará o problema ao atropelar o Plano Nacional de Imunização (PNI) do SUS. Criando privilégio para famílias endinheiradas. A atitude é vergonhosa e fará com que o público não prioritário seja vacinado na frente de idosos e pessoas com comorbidades. 

Quando se administra escassez, principalmente em saúde pública, é preciso planejamento, fazer justiça social, basear-se na ciência e não fazer politicagem, porque está se tratando de vidas.     

Lindolfo Fernandes de Castro é auditor fiscal da Receita Estadual de MG e ex-presidente do Sindifisco – MG.

Edição: Elis Almeida