Em meio à treta

Covid-19: Ministério da Saúde anuncia compra de 46 milhões de doses da vacina chinesa

Informação foi divulgada após sequência de farpas entre Bolsonaro e João Doria sobre obrigatoriedade da imunização

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Engenheiros chineses da Sinovac trabalham em laboratório construído para pesquisas de vacina contra o novo coronavírus. - Wang Zhao/AFP

O Ministério da Saúde assinou protocolo de intenções para adquirir 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina contra o novo coronavírus desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac e que, no Brasil, tem parceria com o Instituto Butantan.

O anúncio foi feito nesta terça-feira (20), após a intensa queda de braço entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). As indiretas por meio de declarações públicas começaram há meses, mas a politização do tema ficou mais óbvia nas últimas semanas.

Segundo o ministro Eduardo Pazuello, as doses serão distribuídas pelo Programa Nacional de Imunizações. O Brasil deve distribuir também a AstraZeneca, vacina que chega ao país por meio de parceria entre a Fiocruz e a iniciativa britânica de Oxford. Os dois imunizantes estão em etapas avançadas de produção e passam por testes em milhares de pessoas de diversas nações. Há expectativa de que a campanha comece no início de 2021.

Entenda a briga

Em julho, o presidente Jair Bolsonaro já alardeava críticas ao imunizante produzido no país asiático, maior parceiro comercial do Brasil. As farpas se estendiam também ao acordo do governo tucano do estado de São Paulo para testes e estudos no Brasil. Durante transmissão pela internet, Bolsonaro se gabou de que o Brasil iria adquirir 100 milhões de doses da vacina britânica pesquisada por Oxford e ironizou: "Não é daquele outro país, não. Tá ok, pessoal?". 

Na ocasião, o governador paulista afirmou que não iria politizar o tema, mas o que se viu nos meses seguintes foi uma briga pública entre os dois políticos conservadores. Em mais de uma ocasião, representantes da gestão do estado foram a público afirmar que o Ministério da Saúde não dava sinais de que tinha interesse em distribuir a vacina pelo Sistema Único de Saúde para todo o Brasil, caso ela fosse aprovada pela Anvisa.

Relembre: Vacina contra a covid-19 será obrigatória para toda a população de São Paulo

Do outro lado, Bolsonaro usou todas as oportunidades que pôde para negar que haveria vacinação compulsória. Na primeira vez que tocou no tema, disse que ninguém seria obrigado a se vacinar, respondendo a uma apoiadora que, em frente ao Palácio do Alvorada, pediu: "Ô Bolsonaro, não deixa fazer esse negócio de vacina não. Isso é perigoso".  Houve até mesmo uso das contas oficiais do governo nas redes sociais para informar que não haveria obrigatoriedade.

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Após as declarações mais recentes do tucano João Doria, Bolsonaro voltou a fazer ataques indiretos à iniciativa chinesa. No mesmo dia em que o Ministério de Ciência e Tecnologia veio a público para divulgar que um vermífugo mostrou ser efetivo contra o coronavírus, sem nenhum dado comprovatório, Bolsonaro disse que as vacinas só serão aprovadas após comprovação de eficácia. Ele completou a afirmação óbvia com críticas veladas a China. "O país que está oferecendo essa vacina tem que primeiro vacinar em massa os seus", argumentou.

Números diários no Brasil

Enquanto os dois gestores trocam farpas políticas públicas, a pandemia segue avançando no Brasil. Ainda que o ritmo de contaminações e óbitos esteja mais lento nas últimas semanas, os números são considerados muito altos. Isso porque o Brasil passou mais de três meses em um platô de recordes mundiais sucessivos. O país chegou a ser o que mais registrava casos em 24 horas algumas vezes. 

Segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, até esta terça-feira (20), 154.837 pessoas morreram por causa da covid-19 em  território nacional. Foram confirmados 661 óbitos em um dia. O total de contaminados é de 5.273.954 e somente desde segunda-feira (19) houve registro de 23.227 novos pacientes.

O que é o novo coronavírus?

Trata-se de uma extensa família de vírus causadores de doenças tanto em animais como em humanos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em humanos os vários tipos de vírus podem provocar infecções respiratórias que vão de resfriados comuns, como a síndrome respiratório do Oriente Médio (MERS), a crises mais graves, como a Síndrome Respiratória Aguda severa (SRAS). O coronavírus descoberto mais recentemente causa a doença covid-19.

Como ajudar quem precisa?

A campanha “Vamos precisar de todo mundo” é uma ação de solidariedade articulada pela Frente Brasil Popular e pela Frente Povo Sem Medo. A plataforma foi criada para ajudar pessoas impactadas pela pandemia da covid-19. De acordo com os organizadores, o objetivo é dar visibilidade e fortalecer as iniciativas populares de cooperação.

 

Edição: Rodrigo Chagas