Pernambuco

DESIGUALDADE

Editorial | Panelas vazias, a fome voltou!

Mais de 37 mil pessoas por dia podem perder a vida por falta de comida no mundo

Brasil de Fato | Recife (PE) |
"Fica clara a necessidade de uma teia social estatal, seja para manutenção ou a criação de uma renda básica" - Leonardo de França

Em 18 de março de 1953 aconteceu na cidade de São Paulo a passeata das “Panelas Vazias”, marco central para a “greve dos 300.000”, organizada pelo Partido Comunista do Brasil durante o governo do Getúlio Vargas. A greve teve conquistas, como aumento de 32% dos salários. O que esse movimento desvelava era a fome em larga escala presente no Brasil e que persiste por décadas. Mesmo diante das imensas riquezas e terras no território nacional, sabemos que estas sempre estiveram concentradas nas mãos de poucos da elite, tornando o povo brasileiro submisso e dependente de políticas de Estado para não passar fome.


Com o surgimento e reflexos da covid-19 sobre as atividades econômicas e sociais no mundo, a Oxfam estima que mais 12 mil pessoas por dia possam perder a vida por falta de comida. Se somadas às 25 mil que já morrem pelo mesmo motivo, de acordo com levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU), este número chega a 37 mil óbitos por dia, em todo o planeta, um aumento de 48% só neste ano.


A realidade brasileira, neste sentido, também é dramática. O levantamento mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que 10,3 milhões pessoas passam fome no país, com um desemprego que atinge cerca de dos 13 milhões de pessoas, além do elevado índice de informalidade no trabalho. Fica clara a necessidade de uma teia social estatal seja para manutenção ou criação de uma renda básica para cada brasileiro, seja para o incentivo à agricultura familiar, o que resolveria parte dos problemas.


Num passado recente, de 2002 a 2013, o Brasil diminuiu a fome em mais de 80%, o que foi fruto da conjugação de medidas econômicas e sociais que foram interrompidas com o golpe de 2016. Em 2020, mesmo com a pandemia em curso, o governo Bolsonaro vetou integralmente Projetos de Lei de incentivo à agricultura familiar, ao mesmo tempo em que aprovou a “Lei do Agro”, criando facilidades de acesso a créditos e financiamento de dívidas de grandes produtores rurais. Resultado: tanto os pequenos agricultores, como a população urbana desempregada ficam desamparadas, quando sabemos que é a agricultura familiar que traz alimento para a mesa dos brasileiros e não o agronegócio de exportação.


Em contraponto ao governo, a saída tem sido a solidariedade! Seja com arrecadação de cestas básicas na cidade, doação de produtos vindos de famílias camponesas, desenvolvimento de hortas comunitárias, seja com projetos de cozinhas solidárias, temos aqui um grande aprendizado: só o povo cuidando do povo, experimentando novas relações humanas, tem condições de construir uma saída popular para o Brasil.

Edição: Vanessa Gonzaga