Rio Grande do Sul

INTOLERÂNCIA

Reunião de chapa que concorre à Reitoria da UFPel sofre ataque de ódio

Diversas entidades manifestaram repúdio ao ataque racista e misógino sofrido pelos integrantes da chapa UFPel Raiz

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Campanha tomou as redes sociais denunciando que racismo é crime - Reprodução Facebook

Ataques de ódio em atividades virtuais têm se tornado uma prática sistemática por grupos da extrema-direita. Em reunião da chapa UFPel Raiz, que concorre à Reitoria da Universidade Federal de Pelotas, nesta quinta-feira (20), hackers tentaram constranger os participantes com gritos, xingamentos motivados por violência de gênero e racismo.

Diversas entidades manifestaram repúdio ao ocorrido. Em nota, o Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRPRS) destaca que “os ataques remetem a técnicas descritas em operações de tortura, mesclando ruídos, músicas estridentes e ameaças verbais de exposição do endereço e, talvez o termo mais preocupante, citando ameaças à vida”. O Conselho convoca a categoria a se posicionar contra esse e outros ataques à luta antirracista e a se atentar às práticas racistas em seu cotidiano.

“A professora e psicóloga Miriam Alves, conselheira da Gestão Frente em Defesa da Psicologia RS (Frente RS) do CRPRS, candidata à reitora da UFPEL, atua justamente na incidência das pautas antirracistas nos espaços educacionais e nas universidades. Os atos só evidenciam a importância de termos mulheres, negras, trabalhadoras, mães, militantes da luta antirracista, nos espaços de discussão política, levantando pautas que possam incidir na democratização do acesso e permanência na Universidade Pública”, diz a nota.

Em outra nota de repúdio ao ataque, dezenas de coletivos ligados à saúde mental destacam que “a atitude dos participantes, especialmente dos componentes da chapa que organizaram a reunião, foi de serenidade. Iniciaram imediatamente a retirada dos invasores, mantiveram-se firmes e calmos durante este processo até poder retomar o trabalho”. Conforme o grupo de organizações, desde o início da pandemia, tem sido relatadas situações semelhantes por colegas em diferentes universidades que discutem política, gênero, luta antimanicomial e racismo, entre outros temas.

“Não é preciso dizer que vivemos em um país machista, racista e que está mergulhado na barbárie e no ódio polarizado entre os que se auto intitulam ‘cidadãos de bem’ e os demais, ou melhor dito, os outros. É preciso dizer que a candidata à reitora é uma mulher negra, e muitos dos participantes da reunião são negros e negras. Pessoas que, na verdade, a vida inteira vêm enfrentando o racismo estrutural em nossa sociedade. Assim como seus ancestrais o fizeram no passado”, afirmam.

Também a diretoria da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pelotas (ADUFPel-Ssind) manifestou “tristeza, indignação e veemente repúdio ao ocorrido ontem à noite na reunião aberta da chapa UFPel Raiz”. Lamenta que o início da campanha à Reitoria seja marcado por xingamentos racistas e ameaças explícitas à vida das pessoas. “A universidade vem sofrendo ataques de toda ordem, mas o ataque ao livre pensamento e a integridade das pessoas é o que de mais violento tem se apresentado”, afirma a nota.

Em sua página no Facebook, o Movimento de Resistências UFPreta, formado por estudantes, docentes e técnico-administrativos, lançou uma campanha em apoio à chapa UFPel Raiz, destacando que racismo é crime. No Brasil, a Lei nº 7.716/1989 estabelece crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. De acordo com a Lei, praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional por intermédio dos meios de comunicação pode acarretar uma pena de dois a cinco anos de reclusão, acrescida de multa.

Edição: Katia Marko