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Alguma luz no fim do túnel?

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Sem forte unidade do campo democrático-popular e de esquerda, sem muita e crescente mobilização nas ruas, será muito difícil afastar Bolsonaro e Mourão - Michael Dantas/AFP
Está sendo construída uma rede solidária e de impulso à mudança e transformação da sociedade.

Estamos todos e todas sem saber o que vai acontecer amanhã. Cada dia há uma nova opinião, há acontecimentos surpreendentes e inesperados, e faz-se uma análise diferente. Ah, agora vai. Ah, nada e ninguém segura Bolsonaro/Mourão diante de tantas mentiras, falcatruas e desgoverno. Ah, agora a pandemia está começando a ir embora! Ah, finalmente os militares vão se dar conta da fria em que entraram! Ah, agora vamos ter um ministro da ‘Educassão’ minimamente palatável, confiável e com a cabeça no lugar! Ah, finalmente o STF e o TSE vão assumir e cumprir seu papel constitucional!

Ao mesmo tempo, no campo democrático-popular e de esquerda há, felizmente, alguns bons sinais no horizonte.

A solidariedade está brotando por todos os lados. Não resolve os problemas da fome, da miséria e do desemprego, muito menos os da desigualdade, mas dá esperança de que, no futuro, a intolerância, o ódio e a falta de cuidado com a Casa Comum possam diminuir. De baixo para cima, está sendo construída, como em outros tempos, uma rede que, além de solidária, também é política de impulso à mudança e transformação da sociedade.

O povo está cada dia mais nas ruas, a luta e a mobilização estão crescendo. A Comissão Organizadora da Campanha Nacional Fora Bolsonaro convocou um Dia Nacional de Mobilização Fora Bolsonaro, pela vida contra a covid, para 10 de julho, com ações simbólicas, ações de agitação, Assembleias nos locais de trabalho, pano preto nas janelas, e um panelaço às 20h. E no dia 11 de julho haverá uma Plenária Nacional Fora Bolsonaro e pela vida contra a covid, antecedida de Plenárias estaduais Fora Bolsonaro e pela vida contra a covid. Será proposto um urgente, necessário e imediato ‘lockdown’ de duas semanas para enfrentar o coronavírus. E dia 14 de julho será entregue/protocolado um pedido de impeachment de Bolsonaro/Mourão, assinado por uma centena de entidades nacionais. Ou seja, a mobilização está crescendo e se ampliando.

Os entregadores de apps, aplicativos, fizeram uma greve inédita no dia primeiro de julho, o ‘Breque dos Apps’. São os trabalhadores dos tempos atuais, hoje milhares, milhões, que sofrem com a falta de direitos e de leis de proteção, que começam a se organizar e estão indo para as ruas. Como disse um entregador: “Se tivesse outro trabalho, nunca mais me envolveria com negócio de aplicativo.”

As lutas e mobilizações antirracistas incendiaram, no bom sentido, o Brasil, as Américas e o mundo. ‘Vidas negras importam!’

Os problemas, contudo, ao lado dos bons sinais, são muitos, ainda.

A pandemia do coronavírus, tudo indica, vai atravessar 2020 e se estender por um pedaço de 2021, a não ser que surja alguma vacina. E continua, com suas exigências de isolamento social e suas consequências na economia, na vida das pessoas e da sociedade. Por isso, a urgência de um ‘lockdown’ geral.

A crise econômica e social se aprofunda e vai agravar-se nos próximos meses, especialmente ante a inação dos governos, especialmente o federal. Haverá mais fome, mais desemprego, mais miséria.

A falta de unidade do campo democrático-popular e de esquerda, embora com sinais positivos em alguns momentos e situações, está longe de ser suficiente numa conjuntura crítica como a atual. As eleições municipais de novembro são um exemplo, entre outros, desta falta de unidade, o que beneficia os setores conservadores e a direita.

Enxerga-se pouca luz no fim do túnel, por enquanto. Sem forte unidade do campo democrático-popular e de esquerda, sem muita e crescente mobilização nas ruas, será muito difícil afastar Bolsonaro e Mourão. Ou construir um programa estratégico de transformação, fundamental para o próximo período.

Alguma luz, ou algumas luzes, no entanto, se acendem. Estas luzes devem ser ampliadas, para iluminarem o túnel por completo, até sua saída. ‘Ninguém solta a mão de ninguém.’ ‘Quando o povo se junta, o poder se espalha.‘ E quando isso acontece, as mãos dadas e unidas, o povo e o poder juntos, todas as luzes se acenderão e brilharão sem parar na saída do túnel do tempo e da História.

Edição: Marcelo Ferreira