Rio de Janeiro

Denúncia

Moradores do interior do Rio denunciam alto fluxo de turistas durante pandemia

Movimentos locais pedem barreiras para controlar acesso às cidades; Fiocruz alerta para contagio no interior desde abril

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Cidade de Petrópolis implementou o sistema de barreiras sanitárias para evitar a presença de turistas - Jaqueline Deister/ Brasil de Fato

A covid-19 avança a passos largos pelo interior do estado do Rio de Janeiro e municípios estabelecem plano de reabertura da economia em pleno crescimento do número de casos. Em Nova Friburgo, na região serrana do estado, os moradores dos pequenos distritos de Lumiar e São Pedro da Serra cobram a implementação de barreiras sanitárias pela prefeitura para reduzir a entrada de turistas nas localidades.

Há um mês, no dia seis de abril, a Prefeitura de Nova Friburgo estabeleceu, por meio de decreto, a proibição de novas hospedagens em hotéis, pousadas, Airbnb, Booking e similares. Porém, a medida não foi suficiente para reduzir os turistas no município. De acordo com a professora Marcela Guimarães, que integra o movimento de moradores, coletivos e entidades de Lumiar e São Pedro da Serra em defesa de medidas mais restritivas para evitar o avanço da pandemia, muitos turistas encontram mecanismos para burlar a lei e viajar para a região que é conhecida pelas belezas naturais. 

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“Continua esse fluxo de turistas, principalmente por causa de casas que são alugadas para veranistas. Foi estabelecido que não poderia se alugar por temporada, mas algumas dessas casas estão sendo alugadas com contrato de um ano e isso também não está dentro da legislação. As pessoas vêm do Rio, alugam casa com contrato de um ano mas só estão aqui no final de semana, às vezes também estão trabalhando e emprestam a casa para outras pessoas e amigos. Eles estão indo para cachoeiras, fazendo caminhadas em locais turísticos, muitas vezes sem o uso de máscara e causando aglomeração em alguns estabelecimentos”, contou. 

O movimento organizado nos distritos de Nova Friburgo pede, principalmente, para que o governo municipal instale barreiras sanitárias na cidade para controlar o acesso de turistas. Na sexta-feira (29), os integrantes do movimento pretendiam realizar um ato em defesa de barreiras sanitárias permanentes nas rodovias de acesso a Lumiar, contudo, a manifestação foi impedida pelo governo local.

O Brasil de Fato procurou a Prefeitura de Nova Friburgo para esclarecimentos sobre a falta de fiscalização do município com relação ao alto fluxo de turistas, porém, não recebeu retorno até o fechamento desta reportagem.  

Outros municípios

O caso de Nova Friburgo não é isolado. O município de Petrópolis, na região metropolitana do estado, também teve problemas com o fluxo de turistas para a cidade. No dia 16 de maio, o restaurante Pietro Santi Dinner Club, no distrito de Itaipava, realizou uma festa, desrespeitando o decreto municipal que impede eventos. O local foi multado e teve o alvará cassado pela prefeitura. O Hotel Castelo de Itaipava também desrespeitou as medidas de proteção e, no mesmo final de semana da festa, causou aglomeração de hóspedes nas dependências comuns do estabelecimento. Itaipava é um dos locais de Petrópolis que mais concentra a presença de turistas no município. 

Segundo o professor e coordenador do Gabinete Popular, coletivo de fiscalização de políticas públicas e advocacia de Petrópolis, Yuri Moura, muitas denúncias foram recebidas pela organização, principalmente nas áreas de Araras, Itaipava e Secretário. Para Moura, muitas pessoas que optaram em ir para o interior se comportam como se estivessem de férias e desrespeitam as medidas de isolamento social estabelecidas para evitar o avanço da pandemia. 

“Desde que foram decretadas as medidas restritivas, tanto a nível estadual como municipal, percebemos um fluxo muito grande de moradores da região metropolitana vindo para a região serrana, alguns são veranistas, possuem casas aqui, outros vieram enquanto turistas, tanto que tivemos muitas denúncias de moradores, de bairros como Vale das Videiras, Secretário, Araras e Itaipava de que logo no início do distanciamento social, você via muitos desses veranistas ocupando bares e tratando toda essa política de isolamento quase que como férias”, detalhou. 

Dados

O avanço da pandemia para as cidades do interior é algo que já vem sendo alertado pela plataforma MonitoraCovid-19, elaborada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desde de abril. Na nota técnica do início de maio, o levantamento aponta que nas regiões entre 100 mil e 500 mil habitantes, no período de 17 a 23 de abril em comparação com a análise anterior de 23 de março a 2 de abril, houve um aumento de 57.4% no número de pacientes positivos para covid-19. Segundo o estudo, cerca de metade das regiões entre 20 e 50 mil habitantes já apresenta casos.

Outro estudo da Fiocruz mostra que os recursos de saúde essenciais para o tratamento de pacientes da covid-19 no estado de Rio estão distribuídos de forma bastante desigual, com grande concentração na região da capital do estado. Uma das principais conclusões do estudo é que a região compreendida pela capital e por municípios da Baixada Fluminense concentra pelo menos 45% de todos os recursos de saúde estaduais, chegando a responder por mais de 70% dos médicos e enfermeiros intensivistas trabalhando no SUS, marcadamente no município do Rio. Ou seja, a capacidade de atendimento no interior do estado é muito pequena se comparada a capital. 

De acordo com o relatório da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro do último domingo (7), o estado do Rio tem 6.707 mortes por covid-19 e acumula 67.756 casos, sendo 51.546 recuperados. Já o boletim da prefeitura de Nova Friburgo contabilizou, até sexta-feira (5), 283 casos e 24, já Petrópolis, totalizou, até domingo (7), 746 casos e 69 mortes por coronavírus.
 

Edição: Mariana Pitasse