Pernambuco

Pandemia

Bairros periféricos do Recife despontam com maiores índices de letalidade por covid

Mesmo com números de casos confirmados equivalente aos de outros bairros, as periferias sempre têm mortalidade maior

Brasil de Fato | Recife (PE) |
A falta de estrutura nas periferias faz com que o coronavírus avance nas comunidades - Mãos Solidárias

Os dados desta quinta-feira (28) sobre o espalhamento da pandemia revelam que os bairros do Recife com maior letalidade do covid-19 estão em áreas periféricas. Os números apontam principalmente para a subnotificação de casos nesses territórios e a menor qualidade de vida da população em comparação com outros bairros. Destacam-se com maior taxa de letalidade os bairros do Vasco da Gama (27,9%), Dois Unidos (26,4%), Afogados (26,4%), Água Fria (25,6%), Nova Descoberta (21,9%), Cohab (21,6%) e San Martin (21,3%). O levantamento feito pelo Brasil de Fato contempla apenas os 22 bairros com mais de 100 casos diagnosticados.

As pesquisas científicas da Imperial College London, da Universidade de Oxford e da Queen Mary University sobre a letalidade da SARS-CoV-2 apontam que em média 1% (algo entre 0,66% e 1,38%) dos casos de contaminação por coronavírus resultam em morte. Mas como a maior parte das localidades no Brasil só está realizando testes nos casos graves, acabamos não sabendo o número real de casos (é a chamada subnotificação). Quanto mais testes realizados pelo poder público, mais chegamos perto do número real de casos, fazendo a taxa de letalidade se aproximar de 1%. Por outro lado, quanto menos testes, maior o número de casos não detectados e maior parecerá a taxa de letalidade.

No Brasil a taxa de letalidade até esta quinta-feira (28) era de 6,2%, enquanto em Pernambuco o índice era um pouco pior: 8,25%. Já a cidade do Recife tinha 14.365 casos de confirmados de covid-19 e 1.004 óbitos motivados pela doença, uma taxa de letalidade (mortes) de 7% dos casos. O vírus é o mesmo, mas a letalidade denuncia onde está a subnotificação, onde há muitos casos não detectados pelo poder público. Este é o caso dos cinco bairros mencionados anteriormente.

O Vasco da Gama, bairro periférico de 33 mil habitantes na zona norte do Recife, tinha até a quinta 122 casos confirmados e 34 mortes. Isso significa que a cada 3 ou 4 pessoas com diagnóstico positivo para covid-19, uma resulta em morte. É a pior taxa da capital pernambucana, o que aponta também que o número real de casos no bairro deve ser muito superior aos 122 confirmados. A situação também é ruim no bairro vizinho, Nova Descoberta. Com 34 mil habitantes, a comunidade tinha 128 casos e 28 mortes até a quinta-feira, resultando numa taxa de 21,9% de mortalidade (a cada 5 casos confirmados, um resulta em morte).

Ainda na zona norte do Recife outros dois vizinhos aparecem na lista: Dois Unidos e Água Fria também estão entre as piores taxas de mortalidade pelo coronavírus. Enquanto Dois Unidos tem 106 casos confirmados e 28 mortes (letalidade de 26,4%), Água Fria possui 172 casos e 44 mortes (25,6%), sendo o 2º da capital com mais mortes. Ambos têm em média uma morte a cada quatro diagnósticos positivos.

No outro extremo da cidade, na zona sul, o bairro da Cohab também preocupa, figurando como 5º bairro com mais casos diagnosticados (190), em 3º com mais mortes (41) e também está na lista das mais altas taxas de letalidade (21,6%), o que aponta para uma provável subnotificação no bairro, que deve ter números bem piores que os apontados. Na área central do Recife, os bairros de Afogados (com 125 casos, 33 mortes e letalidade de 26,4%) e de San Martin (108 casos, 23 mortes e 21,3% de letalidade) também preocupam.

A subnotificação é maior nas periferias porque a população tem menor acesso a testagem, já que depende mais da rede pública de saúde, que por sua vez só tem realizado testes em casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG). Enquanto as pessoas que utilizam a rede privada de saúde têm acesso a testagens mesmo não estando com um quadro grave.

Qualidade de vida

Mas além da subnotificação de casos, a taxa de letalidade também revela a disparidade na qualidade de vida de um bairro para o outro. Em bairros com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), há mais casos de doenças que colocam a pessoa no grupo de risco, como diabetes, hipertensão e outras comorbidades. Um exemplo disso é quando comparamos os bairros do Vasco da Gama (IDH menor que 0,700) e o bairro da Torre (IDH entre 0,730 e 0,770). Enquanto o Vasco da Gama tem 122 casos, a Torre tem um a menos, 121. Mas a Torre tem apenas 17 mortes por covid-19, metade das mortes no Vasco da Gama. Na zona norte, os bairros de Nova Descoberta, Dois Unidos e Água Fria também estão no grupo com menor IDH.

Edição: Marcos Barbosa