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1984 + Vinte Vinte

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1984 é um romance distópico criado pelo escritor britânico George Orwell e publicado em 1949. É nele que surge o conceito de "Big Brother", uma autoridade que vigia as pessoas o tempo todo - Reprodução/catracalivre
Estes tempos são tempos orwellianos, como ficou conhecida a referência ao Grande Irmão

“Quem não aceitar a minha, as minhas bandeiras, Damares: família, Deus, Brasil, armamento, liberdade de expressão, livre mercado. Quem não aceitar isso, está no governo errado” (Bolsonaro, reunião ministerial 22/04/2020).

Paulo Guedes, ministro da Economia: “Esses valores e esses princípios, e o alerta aí do Weintraub é válido também, como seu... Sua evocação é que realmente estamos aqui por esses valores. Nós não podemos nos esquecer disso. Nós podemos conversar com todo mundo aqui, porque é o establishment, é porque nós precisamos dele para aprovar coisa, mas nós sabemos que somos diferentes. Nós temos noção que nós somos diferentes deles” (Reunião ministerial, 22.04).

Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente: “Não precisamos de Congresso. Porque coisa que precisa de Congresso também, nesse fuzuê que está aí, nós não vamos conseguir aprovar. Agora, tem um monte de coisa que é só, parecer, caneta, parecer, caneta. Sem parecer também não tem caneta porque dar uma canetada sem parecer é caneta.” (Reunião ministerial, 22.04).

“É escancarar a questão do armamento aqui. Eu quero todo mundo armado!

O que esses filha de uma égua quer, ó Weintraub, é a nossas liberdade. Olha, eu t^... Como é fácil uma ditadura no Brasil. Como é fácil. Eu peço ao ministro da Justiça e ao ministro da Defesa que o povo se arme. Que é garantia que não vai ter um filho da puta aparecer pra impor uma ditadura aqui! Que fácil impor uma ditadura! Facílimo! Um bosta de um prefeito faz um bosta de um decreto, algema, e deixa todo mundo dentro de casa. Se tivesse armado, ia pra rua. Eu quero dar um puta de um recado pra esses bosta! Por que que eu tô armando? Porque eu não quero ver uma ditadura. E não dá pra segurar mais.

Eu sou o chefe supremo das Forças Armadas, ponto final” (Bolsonaro, reunião 22.04.2020).

Nas palavras do jornalista Jânio de Freitas, “Bolsonaro quer armar todo mundo porque tem obsessão pela morte” (Conversa Afiada, 24.05).

“Eu não vou esperar foder minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus. Sistema de informação, o meu funciona. Os que têm oficialmente, desinforma. Os caras querem é a nossa hemorroida! É a nossa liberdade! Isso é uma verdade” (Bolsonaro, reunião ministerial 22.04).

Bolsonaro tem SMI, Serviço Miliciano de Informações, segundo o blog O Tijolaço (24.05).

Abraham Weintraub, ministro da Educação: “E é isso que me choca, a gente tá perdendo a luta pela liberdade. É isso que o povo tá gritando. Por mim, botava na cadeia esses vagabundos todos, começando pelo Supremo” (Reunião ministerial, 22.04) 

George Orwell escreveu o famoso romance ‘1984’ em 1948, publicado em 1949. Retratou quase 40 anos antes o que seria a sociedade do futuro. Em ‘1984’ tem a expressão ‘Big Brother’, o Grande Irmão: o que vê tudo, o que controla tudo, o que persegue, o que mata quando necessário.  Quem, em 2018 (há apenas dois anos!!!), poderia pensar, imaginar o que se está vivendo em 2020. Não são os quase 40 de antecipação de Orwell.

Estes tempos são tempos orwellianos, como ficou conhecida a referência ao Grande Irmão, e a outros termos, como duplipensar, crime de pensamento, novilíngua, buraco da memóriam teletela, 2+2=5, usados no romance. A vigilância governamental do Big Brother é onipresente, feita através da Polícia do Pensamento. O Partido busca o poder por seu próprio bem. Não está interessado no bem dos outros. Está interessado unicamente no poder. Seu lema: ‘Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força.’ O verbo orweliar significa: o engano é oficial, a vigilância secreta é a manipulação da história, registrada e avalizada por um Estado totalitário ou autoritário.

Está em ‘1984’: “Parsons imitou o gesto de quem aponta um fuzil e estalou a língua como se desse o tiro. ‘O que estou querendo dizer é que estamos no meio de uma guerra’, observou Parsons” (p. 74). “A programação de Dois Minutos de Ódio variava todos os dias, mas o personagem principal era sempre Goldstein, o Inimigo do Povo. Ele era o traidor original, o primeiro conspurcador da pureza do Partido (p. 22). “O mais horrível dos Dois Minutos de Ódio não era o fato de a pessoa ser obrigada a desempenhar um papel, mas de ser impossível manter-se à margem” (p.25). “O Grande Irmão está de olho em você” (p. 12). “Era terrivelmente perigoso deixar os pensamentos à solta num lugar público ou na esfera de visão de uma teletela” (p. 79). “Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado.”

Na reunião ministerial de 22 de abril, foram proferidos: 5 merda, 7 bosta, 8 porra, 2 foder,4 putaria, 2 puta que o pariu, 2 filha da puta, 1 cacete, pelo Senhor Presidente da República, em duas horas de reunião.

São tempos orwellianos os descritos em ‘1984’, mais ainda os de 2020, vinte vinte, 36 anos depois do tempo do romance. Quem enfrenta e derrota o Big Brother, o Grande Irmão? Como recuperar e garantir a democracia?

Edição: Katia Marko