Bahia

COMUNICAÇÃO

Baianos se reinventam e apostam em ferramentas on-line para dialogar durante pandemia

Lives e podcasts têm sido alternativas para cuidados e trocas de conhecimento entre grupos diversos

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
Saúde mental, realidades urbanas, religião entre tantos outros assuntos estão na pauta das transmissões. - Reprodução

Em casa, mas em movimento: é o que espaços virtuais de trocas têm garantido. Debates importantes têm ultrapassado as barreiras impostas pela necessidade de distanciamento físico e chegado a diversas pessoas. Lives e podcasts são algumas das alternativas que as pessoas e movimentos sociais usam, atualmente, para debater pautas que são da ordem do dia. 

Foi assim na semana passada, quando o estudante de Psicologia Elder Reis, diretor de Combate ao Racismo da União Nacional dos Estudantes - UNE, participou da live promovida pelo Levante Popular da Juventude para falar sobre "Saúde Mental na Pandemia".  A conexão partiu de Salvador, mas atingiu todo o país. “É importante compreendermos que esse é um momento novo para nós. É complexo. Muitos de nós, jovens, nunca vivenciamos. Sentimentos de ansiedades, tristezas e incertezas. A intenção da live é também de compartilhar estratégias de cuidado e estratégias para amenizar essas sensações e que não necessariamente são patologias”, explica Elder.

Algumas iniciativas são construídas com a preocupação de diversificar a informação no atual momento, ao mesmo tempo que propõem reencontros aos que sempre estiveram mobilizados presencialmente e cativam novas escutas para as discussões sociais. É o que tem feito a professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, Gabriela Leandro (Gaia), através de podcast.  A experiência vem sendo construída a partir do grupo de pesquisa 'Corpo, Discurso e Território', que surge na perspectiva de ser um espaço de acolhimento, reunindo estudantes de graduação e pós graduação, negros, de periferia, interessados em pesquisar a cidade racializada, e também aspectos envolvendo gênero e sexualidade. O confinamento apresentou novos desafios ao grupo e exigiu que o compartilhamento das produções sobre esses temas ocupassem essa ferramenta similar à rádio, mas que permite que o áudio fique armazenado em alguma plataforma.

Professora Gaia, como é conhecida entre os estudantes, ressalta: “já existia uma demanda para compartilhar nossas produções em outras plataformas e também de lidar com essa situação de isolamento. Então, são sete episódios lançados nesse mês de quarentena. Os primeiros foram em comemoração aos 60 anos do lançamento do livro 'Quarto de Despejo' de Carolina Maria de Jesus, pensando a cidade a partir das narrativas de mulheres negras. Estamos pensando na construção destes podcasts como forma de arquivos e também como rede de diálogos sobre a cidade na perspectiva da raça, gênero ou de sexualidade”, pontua.  

"Reencontro e Aprendizado" foi como Dofono Hunxi, estudante de História, músico popular e religioso da comunidade de terreiro Vodunzo, definiu suas lives. Elas reúnem saberes tradicionais pertencentes aos Terreiros de Candomblé, que têm seus adeptos também vivenciando o isolamento social. Para Hunxi, as transmissões ao vivo têm como proposta atrair a responsabilidade e discussão sobre representatividade do jovem com a religiosidade. Ele pretende seguir utilizando a ferramenta mesmo após a pandemia, como uma alternativa positiva do uso da internet em prol da religião.  “O uso da internet e as ferramentas que elas oferecem permitem passar conteúdos, conhecimentos e ensinamentos. As lives acontecendo trazem uma sensação de reencontro na quarentena. É importante para passar conhecimento acadêmico e religioso, assim como o cuidado e amor ao próximo. A minha comunidade foi atingida de uma forma boa pelas lives, porque estava dispersa, sem conteúdo religioso, porque a gente tem essa prática de ensino pedagógico o tempo todo dentro do nossos terreiros e isso estava estagnado e acaba que a gente traz de volta esses ensinamentos”, conclui.

Edição: Elen Carvalho