Minas Gerais

VIOLÊNCIA

Despreparo policial leva à prisão de toda uma família em Nova Lima (MG)

Durante abordagem violenta a um casal, família questionou sobre ausência de policial feminina e todos foram detidos

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Família Grigório Faria estava em quarentena quando, na rua, ouviram os gritos de uma mulher pedindo "socorro" - Arquivo pessoal

Uma família moradora do distrito de Macacos - Sebastião das Águas Claras, em Nova Lima (MG) -, estava em quarentena quando na terça (14) ouviram gritos de uma mulher. Segundo Karina Grigório Faria, ela, suas duas irmãs, seu pai e sua mãe foram à rua entender o que estava acontecendo, situação que levou todos a serem detidos pela Polícia Militar.

Aproximadamente às 13h30, o que acontecia era uma revista policial a um casal em uma motocicleta, que afirmavam estarem indo à cachoeira. “A moça na garupa gritava ‘socorro’, eram gritos desesperados”, conta Karina, “quando vimos, dois policiais já estavam abordando o casal e chutando a motocicleta. Nos aproximamos com a intenção de acalmar a moça quando vimos que o policial estava na intenção de revista-la”, conta Karina.

Foi a sua irmã, Tamara Grigório Faria, que questionou o policial sobre a ausência de uma policial feminina. Segundo o artigo 249 da Constituição Federal, a revista em mulher deve ser feita por outra mulher, se não resultar em prejuízo da diligência. Porém, ao questionamento, o policial se mostrou “bem alterado”, diz Tamara. “Se a gente não tivesse lá, eles iam revista-la. Já vi várias revistas policiais. Para a gente chegar ao ponto de perguntar o que estava acontecendo é porque não estava sendo correto”, explica Tamara.

Detalhes da prisão de toda a família

A partir daí, o policial teria pedido para Tamara e as irmãs tomarem a distância de um metro. Elas afirmam que se afastaram. Um minuto depois o policial militar jogou spray de pimenta sobre elas. Passados 10 minutos, com o cenário novamente tranquilo, e uma das pessoas filmando o que estava acontecendo, Karina conta que chegaram quatro viaturas, com 7 homens e uma mulher, se reuniram e decidiram dar voz de prisão a Daniele Grigório Faria, por desacato.

Mediante a resistência da família, principalmente do seu pai, Ailton de Faria, e da sua mãe, Iolanda Grigório, de deixar que a filha fosse presa naquelas condições, os policiais teriam afirmado que toda a família seria detida. Daí, se iniciaram as cenas de violência vistas nos vídeos compartilhados nesta semana nas redes sociais.

“Fomos trocar de roupa e pegar os documentos, e os policiais começaram a forçar a entrada na minha casa. Empurraram meu pai, nos puxaram pelo braço, jogaram spray de pimenta, chutaram minha perna, algemaram a mim e meu pai e colocaram no camburão”. No vídeo, é possível ver Daniele no chão, já na rua, com um policial ajoelhado sobre o seu rosto e outro sobre as pernas. A mãe, Iolanda, e Tamara também são vistas no vídeo no chão, imobilizadas por policiais.

Durante a ação, as irmãs afirmam que ouviram policiais as ridicularizando de “mulher feia”, “que sempre quis ser presa”, “que queria ser policial e não conseguiu”.


De forma agressiva, mulheres da família são imobilizadas por policiais / Arquivo pessoal

Boletim de Ocorrência

A família foi levada para o 5º Batalhão da PM no Jardim Canadá, onde foi feito o Boletim de Ocorrência alegando desacato, resistência e perturbação do serviço policial. Depois, foram encaminhados para a Polícia Civil, e mais tarde para o Instituo Médico Legal. Uma audiência foi marcada para 21 de setembro.

A Polícia Militar de Minas Gerais alega, em nota, que os policiais efetuaram a prisão pois populares empurraram a equipe e proferiram palavras de baixo calão. A atitude da família, segundo a polícia, representou “perigo para a segurança da equipe”. Na opinião da PM, os populares tinham o objetivo de impedir a ação policial. Porém, afirma um procedimento interno para averiguar excessos foi instaurado.

O clima agora

Tamara diz que a família está bem fisicamente, apesar dos hematomas e da mãe estar tendo perda de memória recente. Uma tia que mora no bairro, que sofre de pressão alta e chegou a delirar durante as cenas da abordagem policial, também passa bem. Mas a pergunta fica a martelar: toda essa violência... por que?

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Edição: Elis Almeida