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POLÍTICA

Diminuindo gravidade da pandemia, discurso de Bolsonaro é atacado por políticos de PE

Governo do Estado e parlamentares rebatem discurso que pode custar vidas nos próximos dias

Brasil de Fato | Recife |
Presidente já fez três testes para diagnosticar coronavírus, mas não divulgou os exames - Carolina Antunes/PR

Na contramão de especialistas, organizações internacionais e presidentes de outros países, Jair Bolsonaro (sem partido) fez pouco caso da pandemia de covid-19 e incentivou a população a encerrar o isolamento domiciliar, medida adotada em todo mundo como a mais eficaz contra a disseminação do coronavírus. Nas palavras do presidente, é hora de voltar a normalidade, reabrir escolas e acabar o clima de “terra arrasada”. 

Bolsonaro também criticou o papel do jornalismo, afirmando que a imprensa está exagerando na cobertura da pandemia, voltando a chamá-la de “gripezinha” e que pessoas como ele, que tem um “histórico de atleta”, não precisam se preocupar com a doença. Além disso, ele novamente relacionou a cura do coronavírus com a cloroquina, medicação usada para doenças autoimunes e que ainda não tem eficácia comprovada contra o covid-19, tendo inclusive causado a morte de uma pessoa nos EUA na terça (25).

O pronunciamento foi rebatido instantaneamente por parlamentares, governos e organizações de saúde. O governador Paulo Câmara (PSB) afirmou no Twitter que as medidas e decretos adotados no estado serão mantidos “enquanto líderes de vários países tomam medidas necessárias para conter o avanço no novo Coronavírus, aqui no Brasil, em pronunciamento veiculado em Rede Nacional, o presidente Jair Bolsonaro vai contramão do que defendem autoridades sanitárias e o próprio Ministério da Saúde. Discurso que, lamentavelmente, comprova que o Brasil está sem comando num dos momentos mais desafiadores da história. O sacrifício é imenso, mas todo esforço tem o único objetivo de salvar vidas. Por isso, em PE, as medidas estão mantidas. É tempo de serenidade, união e trabalho”, afirmou. 

Parlamentares também repercutiram a fala do presidente. O deputado federal Carlos Veras (PT-PE), apontou a irresponsabilidade do discurso e questionou “quantas vidas o Brasil precisa perder para o presidente entender a gravidade da situação?”.  Já Tulio Gadêlha (PDT-PE) lamentou pronunciamento e afirmou que vai ignorar orientação de retorno à normalidade proposto pelo presidente “Chegamos ao ponto em que é preciso ignorar completamente o que diz o Presidente da República. Que falta faz um líder em um momento de crise”, pontuou. A também deputada Marília Arraes (PT-PE) pontuou que o povo brasileiro e Bolsonaro caminham em lados opostos “Agora, o Brasil está em guerra contra o covid-19: o povo de um lado, Bolsonaro de outro. Com ou sem ele, venceremos”.  

A codeputada Robeyoncé Lima, do mandato coletivo das Juntas (PSOL), reforça que é irresponsável chamar uma voltar às ruas “é lamentável ter um presidente que faz um pronunciamento que vai de encontro aos indicativos da OMS. Foi uma falta de responsabilidade chamar as pessoas para voltar à normalidade, porque a questão é séria”, reforça. O Presidente da CUT, Paulo Rocha, aponta que a suposta preocupação econômica com o emprego das pessoas pode pôr em risco a saúde dos trabalhadores “Ele diz que está contendo o pânico para garantir os empregos, mas ele não quer colocar recursos da União para investir na vida e na saúde das pessoas. Ele quer que as pessoas morram trabalhando!”.

Enquanto o presidente, que já fez três testes para detectar coronavírus, sub dimensiona o tamanho do problema, os números crescem: já foram mais de 16,5 mil mortes em todo mundo, com cerca de 400m mil pessoas com diagnóstico positivo para o vírus. O Brasil vem tendo um crescimento de aproximadamente 33% ao dia de novos casos da doença, tendo divulgado na terça (24) 2.201 casos confirmados 46 mortes causadas pelo coronavírus.

 

Edição: Monyse Ravena