Rio Grande do Sul

REFORMA AGRÁRIA

Filhos de acampados e assentados se formam no Curso Técnico em Cooperativismo

Trinta e nove educandos e educandas da 16ª turma realizaram uma cerimônia restrita devido ao Coronavírus

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Turma Tapajós conclui o Curso Técnico em Cooperativismo - Cícero Borba da Silveira

Filhos e filhas de acampados e assentados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Movimento de Trabalhadores por Direitos (MTD) concluíram, no último domingo (22), o Curso Técnico em Cooperativismo (TAC) do Instituto de Educação Josué de Castro (IEJC), em Veranópolis, na Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul.

Fazem parte da Turma Tapajós (TAC 16) 39 educandos, originários do Distrito Federal e de nove estados: RS, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Goiás e Pará. Eles receberam o diploma de conclusão de curso no salão de atos da escola, que foi restrito devido à preocupação com o novo Coronavírus (COVID-19). Segundo Miguel Stédile, coordenador do IEJC, estavam presentes na cerimônia somente os formandos e a equipe da escola.

O TAC é a mais antiga experiência de curso formal para áreas da Reforma Agrária. Ele surgiu, de acordo com Stédile, junto com os primeiros assentamentos e da necessidade de organizar o trabalho cooperado dos Sem Terra. “Tem sido uma importante ferramenta para a formação e qualificação das cooperativas, associações, agroindústrias e outros empreendimentos sociais da Reforma Agrária”, pontua.

O curso visa dar ao educando, além da capacitação em gestão, uma formação política e humana. Após 27 anos desde o seu início, são 16 turmas voltadas ao cooperativismo concluídas e uma em andamento. O TAC tem duração de três anos, em regime de alternância. Os alunos cursam o Ensino Médio concomitante ao Ensino Técnico. Além das disciplinas do currículo da rede estadual, conforme Stédile, os estudantes têm aulas de Gestão, Contabilidade, Direito e outras competências necessárias para a organização e gerência de empreendimentos sociais, em especial cooperativas.

Em suma, a 16ª turma contém educandos jovens, o que não os impedem de envolverem-se com os processos de produção do Movimento. “Durante seus estágios, individualmente, os educandos experienciaram a agroecologia das sementes, do café e do arroz”, explica Stédile. Também participaram na comercialização dos produtos da Reforma Agrária, em espaços como os Armazéns do Campo.

O coordenador do IEJC ainda aponta o que o curso espera de seus novos técnicos. “A expectativa é que a turma continue a se inserir nos processos produtivos. Que contribua na organização dos seus assentamentos e na construção prática da Reforma Agrária Popular através da produção de alimentos saudáveis para o povo brasileiro”, finaliza.

Turma Tapajós

A denominação da 16ª Turma do TAC é Tapajós, palavra indígena, a qual tem como significado resistência. Segundo Cleidiane Santos Pereira, de 24 anos, mãe da Sem Terrinha Camilly, do Assentamento Primeiro de Junho, em Tumiritinga, Minas Gerais, essa escolha se deu a partir de vivências da turma durante o curso.

Portanto, Tapajós, na percepção da turma, representa as várias formas de resistência que os educandos presenciaram em sua trajetória, tais como: a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o assassinato de Marielle Franco, o rompimento das barragens em Brumadinho e Mariana, entre outros fatos da conjuntura brasileira.

A mineira Cleidiane conta que foi convidada a participar da turma de cooperativismo enquanto frequentava o Curso Técnico em Agroecologia, que não foi concluído devido ao corte de verbas por parte do governo federal. “Quando se trata de adquirir conhecimento, toda porta que se abre é bem-vinda”, declara a educanda.

Para a técnica em cooperativismo, obter conhecimento é poder ajudar o MST a seguir em frente. “Nós nos incentivamos muito, quando ajudamos a fazer acontecer e a fazer dar certo”, diz. Ela ainda enfatiza que a convivência com os companheiros de turma foi um desafio, no entanto, essa jornada a ajudou a se tornar um novo ser e a compreender melhor o Movimento.

“O MST, ao me dar essa oportunidade, trouxe muito ensinamento. A experiência vivenciada no TAC foi única. A convivência na coletividade dentro dos princípios do MST nos ensina muito, constrói uma nova mulher, um novo homem no debate de gênero, na formação do trabalho de base, na postura militante, na formação política”, destaca Cleidiane.

Já para Everton Hammerschmitt Pereira, 18 anos, do Assentamento Recanto, em Santana do Livramento, no RS, a busca por uma qualificação profissional foi o que incentivou a participar do Curso Técnico em Cooperativismo. “O curso proporcionou um método de gestão de empreendimentos sociais, ferramentas econômicas, que dão sustentação ao Movimento. Logo, é a inserção orgânica dentro do MST, que dá seguimento a sua luta, e buscamos contribuir para que as demandas deste sejam garantidas, bem como o compromisso com seus princípios organizativos”, argumenta.

“A minha vivência dentro do processo organizativo do MST foi me proporcionado uma formação militante, humana, e ainda a inserção nos movimentos sociais populares”, ressalta Pereira. Além disso, o TAC, segundo o educando, dá sustentação às demandas administrativas para o conjunto das ferramentas econômicas que fazem parte do MST.  

 

Fonte: página do MST.

Edição: Marcelo Ferreira