Pernambuco

GREVE

“Tem mulher sim no Comando Nacional da Greve dos petroleiros”

O Brasil de Fato conversou com Cibele Vieira, petroleira, que passou 23 dias ocupando Edifício sede da Petrobras

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Cibele faz um balanço da greve histórica da categoria e elenca desafios - FUP

Em todo o país, as mulheres petroleiras representam 16% da categoria. Enfrentando o machismo no trabalho, no mundo sindical e membro do Comando Nacional da Greve dos petroleiros, Cibele Vieira conversou com o Brasil de Fato, fazendo um balanço da greve histórica da categoria e elencando desafios. 

Brasil de Fato - Cibele, como você avalia a greve, tendo em vista o papel da ocupação no Edise e também seu lugar como mulher petroleira nas mesas de negociação?

Cibele Vieira - A greve foi altamente vitoriosa no sentido de que nós saímos de um descumprimento completo do Acordo Coletivo, com o pessoal da Fafen sabendo da venda da unidade pela televisão. A gente está denunciando o esvaziamento de qualquer espaço negocial coletivo, porque isso já tem ocorrido desde o ano passado, e aí por isso fizemos a ocupação no Edise, que a simbologia ali colocada é da gente representando os trabalhadores numa mesa de reunião, aguardando para ter a negociação. Tem nisso um ganho grande de respeitar as organizações coletivas dos trabalhadores. Infelizmente as mulheres ainda crescem aprendendo que o espaço de tomada de decisão não é delas. Ainda estamos numa cultura bem machista, só que felizmente isso tem sido cada vez mais questionado. Eu acho que a minha participação no movimento sindical está dentro desse contexto. É uma categoria cuja a maioria são homens, são 16% de mulheres na base da categoria petroleira. A gente vem de um processo de conseguir que fossem colocadas cotas na direção da FUP. 

BdF- Como você chegou até a Petrobrás? e ao mundo sindical? 

Cibele - Eu desde a adolescência militava com ações voluntárias em ONG, sempre tinha essa questão da preocupação do outro, e aí eu optei em fazer faculdade de ciências sociais. Eu entrei na Petrobras em novembro de 2002 e em 2003 eu comecei a faculdade, então eu como estudante de sociais já tinha uma inclinação pro movimento sindical, só que eu terminei a faculdade e estava na expectativa de mestrado, mas aí o pessoal do sindicato já vinha tentando me aproximar e eu optei por desistir do mestrado porque queria uma coisa mais prática, mais direta e mais efetiva e entrei de vez na direção do sindicato. Tinha uma predisposição que foi sendo construída ao longo do tempo. 

BdF- Qual o desafio no combate ao machismo no local de trabalho e também no sindicalismo? 
Cibele - O desafio de lutar contra o machismo no meio sindical, primeiro de tudo, é mostrar que não é mimimi e que é sim uma questão e que há uma diferença de tratamento. Quando uma mulher vai falar na reunião, a galera presta menos atenção. A mulher chega no sindicato e qualquer coisa que ela fala é "tá vendo, mais uma mulher falando besteira". Enquanto tem muitos homens que também chegam despreparados e precisam se formar no movimento, mas com a mulher a cobrança é outra, né. Tem mulher sim no Comando Nacional de Greve dos petroleiros. Foi muito positivo muitas mulheres olhando e falando "nossa, tem uma mulher lá no Comando Nacional de Greve dos petroleiros, então, se ela consegue estar lá, eu posso sim ser sindicalista, ser operária, ser petroleira, eu posso sim estar na luta".

BdF -  A greve foi histórica tanto no sentido da mobilização, quanto no avanço das pautas. Mas, pra você, qual foi o maior ganho? 

Cibele - Em relação às demissões da Fafen, foram feitas 144 demissões que foram revertidas e as demissões foram suspensas até o dia 06 de março. O principal é que mostra a eles que não se pode fazer as coisas de qualquer jeito. Eles tem que respeitar os espaços coletivos. A gente enfrentou uma ofensiva muito forte da gestão da empresa, ameaçadora; a gente enfrentou o Judiciário que no primeiro momento veio com tudo pra cima da greve, mesmo assim, os trabalhadores e trabalhadoras continuaram seguindo a orientação do sindicato. Foi uma adesão muito grande nas unidades em greve, foi um movimento muito bonito. Na luta da pequenas conquistas, você vai conseguindo grandes vitórias, porque você vai se somando, vai se fortalecendo, vai acreditando que é capaz. Você sai de uma reação de medo para uma posição de enfrentamento.

BdF - Algumas conquistas importantes foram alcançadas, mas ainda existem outros desafios. Quais os próximos passos da categoria?

Cibele - Em alguns pontos, a negociação continua por mais 30 dias. Tá aí também uma das conquistas dessa greve no Congresso. Agora vai ter um projeto de lei que fala que as estatais não podem vender ativos sem passar pelo Congresso. Foi um projeto de lei em relação a isso e foi uma conquista também. Agora a gente tem que conseguir criar um ambiente favorável para votação desse projeto e que a gente consiga avançar nesse sentido. Paralelo a isso, vão continuar 30 dias de negociação de outros pontos corporativos e a gente vai continuar tendo mobilizações na base. Não vamos retomar a greve neste momento, até porque a gente está num processo negocial, mas a categoria segue mobilizada.
 

Edição: Monyse Ravena