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PERSEGUIÇÃO

Para pesquisador afastado da Casa de Rui Barbosa, decisão teve viés ideológico

Ao todo, cinco profissionais foram afastados de suas funções na instituição; os cargos não foram extintos

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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A Casa de Rui Barbosa foi criada em 1928; a instituição possui um acervo privado de 130 escritores brasileiros
A Casa de Rui Barbosa foi criada em 1928; a instituição possui um acervo privado de 130 escritores brasileiros - Foto: Laisa Gomes

Na última quarta-feira (8) foi publicado no Diário Oficial da União o afastamento de cinco pesquisadores do Centro de Pesquisa da Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Os profissionais eram considerados peças-chaves para a instituição pública de pesquisa, que trabalha principalmente com a captação e preservação de acervos privados de relevância para a história brasileira.

Entre os profissionais afastados está o sociólogo e escritor José Almino de Alencar que foi presidente da Casa de Rui Barbosa nos períodos de 2003 a 2011. Em entrevista ao Brasil de Fato, o pesquisador explicou que os cinco profissionais afastados permanecem na Casa, mas foram retirados de suas funções, estando à disposição da presidência da Fundação. Para Alencar, o afastamento ocorreu pautado em uma decisão ideológica.

"Como uma visão política de punição à uma atividade que era vista com certa desconfiança. Tem um clima no país que sugere que seja algo ligado às disputas ideológicas que tenham se desenvolvido por aqui [Casa de Rui Barbosa]", detalhou.

Outro ponto destacado por Alencar, e que vem sendo questionado pelos pesquisadores da Casa, é que a atual presidente, a roteirista e comunicadora Letícia Dornelles, não tem formação acadêmica para gerenciar a instituição. “O que é estranho nesse processo é que a presidente não se caracteriza como uma intelectual que participa deste tipo de debate de ideias”, disse ao Brasil de Fato

Os cinco profissionais afastados são: o sociólogo e escritor José Almino de Alencar, o cientista político Charles Gomes, a ensaísta Flora Sussekind, a jornalista Jöelle Rouchou e também Antonio Herculano Lopes, que é diretor do Centro de Pesquisa da Fundação. Todos aguardam esclarecimentos sobre as funções que passarão a exercer. Os cargos dos pesquisadores não foram extintos.

A instituição possui um acervo privado de 130 escritores brasileiros. Entre os nomes estão Carlos Drummond, João Cabral de Melo Neto, Vinícius de Moraes, Clarice Lispector e Manuel Bandeira. De acordo com o site da Fundação, a Casa de Rui Barbosa foi criada no Museu Biblioteca em 1928 durante a presidência de Washington Luís. A instituição conta também com todo o acervo do jornalista e jurista Rui Barbosa (1849-1923).

O Brasil de Fato contatou a Fundação para um posicionamento sobre os afastamentos. A assessoria de imprensa da instituição informou que não a instituição não está comentando o caso.
 

Edição: Mariana Pitasse