Após seis anos do assassinato do militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Cícero Guedes, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou que o caso será julgado por um júri popular no próximo dia 7 de novembro. Cícero foi morto a tiros, aos 49 anos, nos arredores da Usina de Cambahyba, localizada no município de Campos dos Goytacazes (RJ), onde coordenava o acampamento Luiz Maranhão.
As investigações apontaram que José Renato Gomes de Abreu teria sido o mandante do assassinato de Cícero. Ele teria contratado Renan Monção Barreto, Alcidenes Moreira Alves, conhecido como Garrinhcha, e Marivaldo Ribeiro dos Santos para executarem o crime no dia 23 de janeiro de 2013. José Renato chegou a ser preso durante a investigação, mas hoje está em liberdade.
Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), que atuou na primeira fase do júri, há provas nos autos do processo que justificam que seja julgado por um tribunal de júri. Entre elas, depoimentos de testemunhas, que apontam que José Renato “era autoritário, intimidava famílias e cobiçava a posição de Guedes”.
Histórico
O assassinato de Cícero ainda traz à tona conflitos agrários que são históricos na região da Usina de Cambahyba e de Campos dos Goytacazes, envolvendo ocultação de corpos no período da ditadura empresarial-militar, dívidas e denúncias de trabalho escravo. Hoje, as terras da antiga usina continuam improdutivas e sem função social.
“A luta pela desapropriação das terras de Cambahyba data de 1998 e até hoje não temos nenhuma finalização. São denúncias de vínculos com a ditadura militar, trabalho escravo, excesso de dívida pública com a Receita Federal, INSS, Justiça trabalhista. Nossa preocupação é de não permitir que haja uma negação da luta histórica do MST e de figuras como o Cícero, que vão ocupar terra e lutar pela justiça e o direito no campo”, explica a advogada Fernanda Vieira, que acompanha o caso na Justiça.
Para a advogada, a luta de Cícero pela reforma agrária e em defesa das escolas rurais era um resgate da sua própria cidadania. Em Campos, ele era referência na produção agroecológica do assentamento Zumbi dos Palmares, recebia estudantes universitários e era entusiasta das feiras de comercialização.
“O Cícero, justamente por ter sentido na pele a escravidão e a impossibilidade do estudo, ele aprende a ler já no MST, tem uma luta muito histórica. Ele é reconhecido internacionalmente na luta pela agroecologia. Precisamos narrar a história do Cícero demonstrando que o assassinato dele é a tentativa de silenciamento de um modo de vida mais saudável, mais rico em diversidade, e, porque não dizer, mais humano e fraterno, o que destoa do modelo imposto historicamente pelo latifúndio, marcado por grandes extensões de terra, monocultura e uso desenfreado dos defensivos agrícolas”, conclui a advogada.
Edição: Mariana Pitasse