Rio de Janeiro

Procuradora-geral da República pede para federalizar investigações do caso Marielle

PF aponta existência de "trama" envolvendo policiais, milicianos e ex-conselheiro do TCE para crime não ser elucidado

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Raquel Dodge é a chefe do Ministério Público Federal
Raquel Dodge é a chefe do Ministério Público Federal - Carlos Moura/STF

Após receber um relatório da Polícia Federal (PF) apontando a existência de “uma trama” no Rio de Janeiro para atrapalhar a elucidação dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorridos em março de 2018, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu na noite de terça-feira (10) a federalização das investigações.

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A solicitação foi encaminhada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Caso seja atendida, o caso será retirado da Delegacia de Homicídios (DH) do Rio e transferido para a PF.

O objetivo de Dodge é apurar com mais profundidade os indícios de que o mandante do crime seria Domingos Brazão, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Rio e ex-deputado estadual pelo MDB.

Além de suspeito de ordenar a execução de Marielle e Anderson, Brazão teria usado a estrutura do seu gabinete para obstruir a investigação.

A apuração paralela da Polícia Federal aponta para a existência de infiltrados da milícia na Delegacia de Homicídios, aos quais Brazão também estaria ligado.

A PF analisou oito inquéritos de assassinatos relacionados a milicianos e agentes do jogo do bicho. Nenhum deles foi solucionado pela DH.

Quinto de Ouro

Brazão foi afastado em 2017 do TCE após a denúncia de recebimento de propinas para não fiscalizar obras, dentro da Operação “Quinto do Ouro” da PF, que resultou em sua prisão temporária e de outros cinco conselheiros do Tribunal.

Ele teria ligações com o delegado federal Hélio Khristian, que apresentou o policial militar Rodrigo Ferreira como a testemunha que, em maio de 2018, apontou o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o miliciano Orlando de Curicica como mandantes do assassinato de Marielle e Anderson.

O PM contou ter ouvido uma conversa entre Curicica e Siciliano, num restaurante no Recreio dos Bandeirantes, em junho de 2017, em que Marielle foi citada. Brazão e Siciliano teriam uma disputa territorial por votos numa área dominada pela milícia na zona oeste do Rio, o que teria motivado a acusação contra o vereador.

O conselheiro afastado também foi citado na CPI das Milícias em 2008. Marcelo Freixo (PSOL), à época deputado estadual no Rio de Janeiro, presidiu a Comissão, que pediu o indiciamento de 225 políticos, policiais, agentes penitenciários, bombeiros e civis.

Edição: João Paulo Soares