Rio de Janeiro

VIOLÊNCIA

Movimento negro vai à CIDH denunciar governo do Rio e pacote "anticrime" de Moro

Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) reúne representantes da luta antirracista em Kingston, na Jamaica

Brasil de Fato | Kingston (Jamaica) |
Luta antirracista brasileira e internacional participam de audiência com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)
Luta antirracista brasileira e internacional participam de audiência com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) - Reprodução Alma Preta

De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), são 434 casos de autos de resistência só nos primeiros quatro meses deste ano no Rio de Janeiro. São os piores números dos últimos 20 anos. O estado do Rio vive um aumento da militarização da vida legitimado pelos próprios governantes. Exemplo disso é a fala de Wilson Witzel, governador do Rio, que em 2018, antes de tomar posse, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, afirmou que: "O correto é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e... fogo! Para não ter erro”. 

Políticas e práticas como estas necessitam ser combatidas por toda a população que sofre com a militarização da vida. Esta semana, por exemplo, uma destas práticas e na forma de dar voz ao povo que sofre cotidianamente com a política racista brasileira - forma independente, autônoma e coletiva - movimentos negros de todo o Brasil estão reunidos na Jamaica participando de audiência durante visita da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), e que há pouco tempo também estiveram em visita no Brasil. 

Na audiência realizada nesta quarta-feira (9), não serão apenas os casos do Rio de Janeiro, mas todo o ‘Pacote Anticrime’, do Moro, serão denunciados, já que é a população negra a que mais já está sofrendo com o pacote, antes mesmo dele ser aprovado.

Recentemente, Witzel divulgou vídeos em suas redes sociais participando de uma operação policial junto com o prefeito da cidade de Angra dos Reis Fernando Antônio Ceciliano Jordão, a bordo de um helicóptero da polícia. As imagens veiculadas pela imprensa, feitas deste helicóptero e também por moradores daquela cidade, demonstram que tiros foram disparados contra a população civil. 

No vídeo, o governador verbaliza, inclusive, que “está iniciando uma operação com a CORE para dar fim à criminalidade”, falas e práticas como estas legitimam a “ordem para matar”, não por acaso, os números de mortes cometidos pelas polícias do Rio só aumentam. No dia seguinte a esta aparição do governador junto a CORE no helicóptero, mais de cinco favelas do Rio de Janeiro sofreram com operações policiais. Umas delas foi o Conjunto de Favelas da Maré, localizada na Zona Norte do Rio, onde oito pessoas foram assassinadas durante a operação que durou mais de 10 horas, com uso de aparatos bélicos como: blindados aéreos e terrestres, chamados popularmente de caveirões. Só nesta operação, mais de 100 tiros foram disparados pelo helicóptero atingindo as ruas, as casas, as vidas negras e faveladas do local.

As operações policiais com uso do helicóptero blindado fazem aumentar o tempo das operações nas favelas e periferias. Estas ações paralisam o cotidiano de todo o território, são escolas e postos de saúde fechados; comércios sem funcionar; os moradores e moradoras não conseguem ir aos seus locais de trabalho; sem contar no trauma psicológico que todos sofrem durante e após um dia de terror como este. Geralmente, a cada ação da polícia como esta, vidas negras são interrompidas e é isto o que precisamos pautar, que a política militarizada da segurança pública do Rio, é racista, genocida, fascista.

Edição: Vivian Virissimo