Rio de Janeiro

REFORMA AGRÁRIA

Famílias sem terra compartilham saberes em Fórum de Agroecologia, em Macaé (RJ)

Evento sobre unidade agroecológica é parceria do MST com prefeitura de Macaé, universidades e instituições públicas

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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"Unidade Agroecológica, Uma Luta de Todos” foi tema da primeira mesa de diálogo do Fórum nesta tarde de sábado (27)
"Unidade Agroecológica, Uma Luta de Todos” foi tema da primeira mesa de diálogo do Fórum nesta tarde de sábado (27) - Pablo Vergara/MST-RJ

Aprovada este ano pela maioria na Câmara de Vereadores de Macaé, a experiência da escola agroecológica no acampamento Edson Nogueira rendeu para o município do norte-fluminense o primeiro Fórum Municipal de Agroecologia este sábado (27). O encontro é parte da programação da Jornada Universitária em defesa da Reforma Agrária (JURA) que busca fortalecer o diálogo entre campo e cidade sobre a luta pela terra no Brasil.

A proposta é que a “Unidade Pedagógica em Agroecologia”, em funcionamento desde fevereiro, se torne um centro de referência em educação e formação de agricultores e famílias sem terra voltada para produção de alimentos saudáveis em harmonia com o meio ambiente.

O evento que aconteceu durante o sábado (27) é uma parceria do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST-RJ) com a prefeitura de Macaé, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF), Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU-RJ).

Assentado do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Osvaldo de Oliveira, também em Macaé, produtor Marcos Lourenço Ventura, conhecido como Coru, participou do Fórum e contribui nas atividades de plantio na “Unidade Pedagógica em Agroecologia” do acampamento Edson Nogueira. “Agroecologia simboliza um alimento mais natural e puro. Produzi batata-doce, aipim, cana, e estamos perto da colheita”, conta. 

Fórum Municipal de Agroecologia

Na mesa de abertura estavam presentes representantes da Escola Estadual de Educação a Reforma Agrária (ESESF), docentes da UFF, UFRJ e Maira Rocha, arquiteta do CAU-RJ. Ela falou sobre a aproximação dos profissionais de Arquitetura e Urbanismo com movimentos populares.

“Debater habitação não é só falar de construção civil. Precisamos falar sobre território, relações entre os entes e os movimentos e de que forma isso é construído de uma forma socialmente referenciada”, disse. A primeira mesa de diálogo apresentou a proposta pedagógica e o plano de uso da unidade, que já conta com 80 matriculados que recebem formação técnica e política em agroecologia.

Para o Secretário de Agroeconomia de Macaé João Flores a realização do Fórum é um importante marco na concretização de uma ideia antiga que é construir a escola agroecológica e melhorar a qualidade da produção agrícola no município.

“É possível que a gente consiga nos próximos meses a certificação do primeiro grupo organizado através de uma OCS [Organização de Controle Social] para ter acesso ao selo que é uma garantia e credibilidade para o público consumidor”, disse. Além disso, ele destaca a necessidade da produção estar alinhada com a conservação dos recursos naturais.

O evento recebeu cerca de 300 pessoas no Centro de Convenções, localizado na RJ106, no bairro São José do Barreto. A programação continua ao longo da tarde com oficinas, feira agroecológica, debates sobre experiências em educação no campo, desenvolvimento territorial e democracia. Também participam as secretarias de Interior, Educação e de Saúde, o Ministério Público Federal (MPF), acampamentos e assentamentos da região e sindicatos.

Acampamento Edson Nogueira

A “Unidade Pedagógica em Agroecologia” está localizada na região serrana da cidade em um terreno que foi desapropriado pela prefeitura nos anos 2000 pelo não cumprimento da função social na propriedade. Desde 2017 se discute a possibilidade de o município ceder a área para a construção de uma escola de agroecologia. No ano seguinte, foi criado o acampamento Edson Nogueira com cerca de 150 famílias. 

Após mediações com a prefeitura, o movimento conseguiu aprovação para o projeto da escola agroecológica e suspender uma ação de reintegração de posse. A primeira turma começou em fevereiro deste ano, com encontros aos finais de semana, aulas práticas e teóricas sobre economia, plantas medicinais, análise do solo, técnicas de produção agroecológica e oficinas de moradia camponesa.

Edição: Vivian Virissimo