Rio de Janeiro

RELIGIÃO

Setores evangélicos denunciam Jair Bolsonaro como uma ameaça aos valores cristãos

Para evangélicos, o candidato do PSL ameaça valores do Reino de Deus como o amor ao próximo, a graça e a misericórdia

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Grupos como a “Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito”, “O Amor Vence o Ódio” e “Evangélicos Contra Bolsonaro” ganham força no país
Grupos como a “Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito”, “O Amor Vence o Ódio” e “Evangélicos Contra Bolsonaro” ganham força no país - Foto: John Moore/ Getty Images/AFP

A cada nova eleição a mistura entre religião e política está mais presente. De acordo com dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), neste processo eleitoral a Bancada Evangélica no Congresso Nacional passou de 75 deputados federais para 84. Eduardo Bolsonaro (PSL), deputado federal reeleito pelo estado de São Paulo, atingiu a maior votação nominal no país com 1.843.735 votos. 

A “onda” da família Bolsonaro que prega a moralidade e a honra da família tradicional tem sido impulsionada por setores ligados à Igrejas Evangélicas como a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e a Assembleia de Deus, em que as lideranças religiosas fazem campanha para Jair Bolsonaro (PSL), utilizando o espaço da igreja. 

Cristianismo x Bolsonaro 

Contudo, o aspecto que mais tem preocupado entidades religiosas na candidatura de Jair Bolsonaro é o incentivo à violência, a desunião e ao ódio em seus discursos. Desde o inicio da sua vida política enquanto parlamentar, Bolsonaro nunca escondeu a sua admiração por militares acusados de tortura durante a Ditadura Civil Militar e o seu apreço pelo regime que foi marcado pela ausência dos princípios básicos da democracia. 

Em 2016, durante a votação da aceitação do pedido de impeachment da presidenta Dilma Roussef (PT) na Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro exaltou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador reconhecido pela Justiça brasileira em 2008 devido aos crimes cometidos no regime militar. 

Para a psicóloga Sonia Gertner, que cresceu na religião evangélica e integra a Igreja Batista, o candidato Jair Bolsonaro representa uma afronta aos valores cristãos e caminha na direção contrária do que pregava Jesus Cristo. 

“O Evangelho de Cristo é maior do que qualquer ideologia política, mas não podemos deixar de reconhecer que o Evangelho denuncia as injustiças sociais e que Jesus se posicionou ao lado dos pobres e oprimidos”, afirma. 

Sonia aponta que neste momento a união dos cristãos, principalmente dos evangélicos, é fundamental para denunciar que não há unanimidade entre os evangélicos sobre o apoio à Bolsonaro. Segundo ela, o candidato do PSL é uma ameaça aos valores do Reino de Deus como o amor ao próximo, a graça e a misericórdia. 

“O fascismo, que o governo Bolsonaro pode implementar em nosso país não reconhece esses valores. Essa é a verdadeira ameaça que está sobre a nossa cabeça. É preciso que os cristãos se posicionem e digam que este grupo não nos representa e que não há uma homogeneidade na Igreja Evangélica em aceitar a candidatura de Bolsonaro como messiânica, isso é um engodo e vai acabar muito mal”, salienta a evangélica. 

Movimentos Evangélicos e a Democracia 

As declarações  que propagam a violência, o ódio e a segregação proferidas por Bolsonaro têm incentivado a formação de grupos evangélicos que denunciam o risco dos valores disseminados pelo candidato que em nada se assemelham aos ensinamentos de Cristo. 

Grupos como a “Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito”, “O Amor Vence o Ódio” e “Evangélicos Contra Bolsonaro” ganharam força nas últimas semanas em diversas cidades. Os religiosos, que se posicionam em defesa do candidato à Presidência Haddad (PT), têm organizado manifestações em defesa dos princípios democráticos e dos valores cristãos. 

Juliana Duarte é professora de Inglês e integra a Igreja Batista do Caminho. A professora participou da manifestação do movimento “O Amor Vence o Ódio” que ocorreu no centro do Rio de Janeiro na última quinta-feira (18). Ela explica o objetivo da caminhada e destaca que “o fundamentalismo religioso cego presente na fala de Bolsonaro”  não traz benefícios para a sociedade.  

“O nosso objetivo é mostrar que nós, como cristãos, somos contra esse tipo de discurso. Não vemos isso consoante em nossa fé em Jesus. Estamos do lado dos pobres, da compaixão, do amor, do direito para todas as pessoas, dos direitos iguais para homens e mulheres. Isso faz muito sentido com a nossa fé, porque, para a gente, isto tem a ver com o que Jesus veio nos ensinar: de que o mais importante é o amor”, explicou Juliana. 

A próxima caminhada do grupo “O Amor Vence o Ódio” vai ocorrer no município de Niterói, na sexta-feira (26), a partir das 17h, no centro da cidade. 

 

Edição: Mariana Pitasse