Rio de Janeiro

BIKE

Em Niterói (RJ), cicloativistas promovem ações para incentivar trânsito mais seguro

O Coletivo Pedal Sonoro atua na promoção da bicicleta como meio de transporte e pressionando o poder público

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Ciclistas no Dia Mundial Sem Carro em 2013
Ciclistas no Dia Mundial Sem Carro em 2013 - Fernando Frazão/ABr

O Dia Mundial Sem Carro é comemorado neste sábado, dia 22 de setembro. A data internacional tem o objetivo de estimular a reflexão sobre o uso excessivo do automóvel e propor a redução da dependência dos carros e motos para a locomoção.

Para estimular o debate sobre a necessidade de incentivar a mobilidade ativa, o  Brasil de Fato conversou com um dos idealizadores do coletivo Pedal Sonoro, Luís Araújo, que atua na cidade de Niterói há cinco anos promovendo a cultura da bicicleta e cobrando do poder público políticas que promovam um trânsito mais seguro para pedestres e ciclistas.

Brasil de Fato: O que é o Pedal Sonoro?

Luís Araújo: O Pedal Sonoro começou como um brincadeira entre amigos em 2013, começamos a fazer algumas pedaladas com música, às vezes temáticas, e logo depois a gente começou a incidir politicamente. Participamos da entrega de uma carta aberta à prefeitura de Niterói e desde então, até por uma necessidade e falta de outros atores sociais, o Pedal Sonoro começou a se envolver cada vez mais nessa incidência política e cobrar, sobretudo, o poder público municipal sobre as políticas públicas que são fundamentais para o aumento da segurança de quem pedala.

No início do mês tivemos uma tragédia em Niterói com a morte de uma criança de cinco anos de idade que estava sendo transportada pela mãe na bicicleta e acabou sendo atropelada por um ônibus. O caso é muito chocante por se tratar de uma criança e infelizmente já aconteceram outras situações assim tanto em Niterói quanto no Rio de Janeiro de mortes e acidentes graves envolvendo ciclistas. Como o Pedal vê hoje a convivência da cidade com a bicicleta?

Sobre esse trágico episódio, uma tragédia anunciada ao nosso ver, cabem alguns esclarecimentos. No caso das cidades, a maioria dos acidentes fatais envolvendo ciclistas acontece em função de atropelamentos de veículos pesados (ônibus e caminhão). Lá em Niterói, por exemplo, nos últimos anos, a maioria absoluta dos óbitos foram causados por veículos pesados. No Rio de Janeiro, por conta das vias expressas, que é um outro absurdo – vias expressas que cortam corações de bairros, zona sul da cidade, etc –, esse dado tem uma alteração. Porque devido a velocidade um carro ou uma moto acaba tendo potencial de vitimar um ciclista ou um pedestre. 

Na verdade, falta cumprir a lei. Já há muito tempo existe uma legislação, o código de trânsito de 1996, tem a Política Nacional de Mobilidade Urbana, que é uma lei de 2012 e avança bastante na discussão da cidade, no sentido da gente ter um trânsito mais calmo e que abrigue melhor o pedestre e o ciclista. O problema é que no Brasil as leis não são cumpridas. Então, na verdade, toda a nossa militância vai no sentido do cumprimento da lei. É por isso que volta e meia nós participamos de campanhas que atuam justamente no período eleitoral para que os políticos que serão eleitos acabem assumindo um compromisso com relação a essa puta. 

Nas eleições de 2016 vocês entregaram para os candidatos propostas para a melhoria da mobilidade, alguns chegaram a se comprometer. Inclusive o prefeito reeleito. Como tem sido esse diálogo de uma forma geral com o poder público?

A carta compromisso foi entregue durante o processo eleitoral, o prefeito assinou, foi reeleito, o Rodrigo Neves, e recentemente fizemos uma pesquisa que atestou o que a gente já sabia: praticamente nenhuma das dez propostas contidas no documento foi implementada ainda que parcialmente ou de forma inicial. As últimas respostas que tivemos do pode público é que elas serão implementadas até 2020. Mas, na verdade, o que a gente tem são muitas promessas e muitas coisas a serem feita, o que não temos são respostas imediatas aos problemas que vêm acontecendo.

Temos uma outra crítica bastante severa com relação às empresas de trânsito, porque elas têm uma coordenadoria de educação que realiza algumas ações, mas todas as ações são realizadas em colégios. É complicado, porque, embora a gente ache que esse tipo de ação é importante, essa é uma ação que só vai gerar frutos a longo prazo. Os motoristas que estão atropelando, desrespeitando os direitos das pessoas tanto de pedalar quanto de caminhar, estão dirigindo hoje. Não adianta só ações visando o longo prazo. A gente precisa de ações imediatas, tanto no campo da educação, quanto da fiscalização. Quanto dos outros aspectos da infraestrutura e sinalização, para poder aumentar a segurança de quem está pedalando na cidade.

Essa é a proposta da campanha Bicicleta nos Planos?

A campanha Bicicleta nos Planos incide sobre o plano de mobilidade urbana que é uma obrigação dos municípios com mais de 20 mil habitantes, que já deveriam ter feito seus planos. Agora, depois de dois adiamentos da data limite, eles vão ter que entregar até abril de 2019. A campanha Bicicleta nos Planos é nacional e a gente pretende incidir na elaboração do plano de mobilidade para conseguir garantir de fato a inclusão das políticas públicas voltadas para a mobilidade por bicicleta na política de mobilidade de cada município.

E que dica você dá para quem quer começar a usar mais a bicicleta, para quem quer começar a conhecer melhor o trabalho do coletivo Pedal Sonoro?

Para além das campanhas, a gente realiza também as nossas bicicletadas musicais todos os meses dentre outras atividades. Hoje, dia 22 de setembro, no Dia Mundial Sem Carro vamos fazer uma participação na praça Mauá em um evento junto ao Museu de Arte do Rio (MAR) e quem quiser saber mais sobre essas atividades e sobre o Pedal sonoro pode acessar a nossa página no Facebook, o nosso Instagram, o nosso blog e a nossa Web Rádio.

Edição: Jaqueline Deister