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Votos do nordeste devem decidir as eleições presidenciais

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A presença dos candidatos do PT/PC do B levou às ruas milhares de pessoas de vários estados do nordeste
A presença dos candidatos do PT/PC do B levou às ruas milhares de pessoas de vários estados do nordeste - Ricardo Stuckert
Há um caminho favorável para a transferência de votos do Lula para Haddad

Dos assuntos mais comentados na semana sobre as eleições, os maiores destaques foram as presenças no nordeste dos candidatos a vice na chapa de Luís Inácio Lula da Silva (PT), Fernando Haddad (PT) e Manuela D'Ávila (PC do B), bem como do candidato Geraldo Alckmin (PSDB). Tais presenças comprovam o que ficou explícito nas eleições presidenciais anteriores: os votos do nordeste irão decidir eleições de 2018. 

Na história recente da república brasileira, o nordeste teve um papel fundamental na composição das chapas para as eleições presidenciais. Por ocasião da inauguração da transposição do Rio São Francisco e com a então possibilidade de ser preso arbitrariamente e sem provas, Lula levou para o palanque Fernando Haddad e Ciro Gomes, a chapa dos sonhos de gregos, troianos e centristas progressistas de vários matizes.  

Com a prisão política do candidato à presidência pelo PT, a presença dos candidatos da chapa PT/PC do B levou milhares de pessoas às ruas de capitais e demais cidades de vários estados do nordeste, comprovando a possibilidade de algumas candidaturas estaduais de centro esquerda ganharem no primeiro turno: Flávio Dino (PC do B/MA), Rui Costa (PT/BA) e Fátima Bezerra (PT/RN), por exemplo. 

Além disso, comprovou também o que as pesquisas divulgaram nesses últimos dias: há um caminho bastante favorável para a transferência de votos do Lula para o chapão Lula/Haddad/Manuela. Essa transferência pode ser comprometida se a coordenação da campanha do PT/PC do B não mobilizar o principal ponto dessas eleições: o legado do Lulismo nacionalmente, destacando suas estruturais diferenças regionais, como articulador de um pacto envolvendo setores progressistas de vários matizes, capaz de inaugurar uma nova era de progresso econômico, político, social e cultural. 

A coordenação do chapão PT/PC do B não precisa apostar em estratégias na campanha como a “piada” classista e preconceituosa sobre chamar o Haddad de “Andrade” e a Manuela D´Ávila de “Manuela Grávida” porque é mais fácil para o “povão nordestino” gravar os nomes da chapa petista ao mesmo tempo em que reivindica, com razão, a criação de seis Universidades Federais apenas na Bahia. 

O nordeste mudou muito durante os governos petistas. Aqui, em 2013, as manifestações foram por mobilidade urbana e ampliação dos direitos conquistados. O projeto de integração nacional dos governos petistas – o fim do chamado Brasil Profundo – incidiu sobre a nossa histórica desigualdade regional: hoje, o sertanejo e a sertaneja não são mais obrigados a deixar sua terra e família para servir de mão de obra precarizada e super explorada nas capitais do centro-sul. Isso nunca tinha acontecido antes e não parece ser por outra razão que, depois de 2016 e tantas arbitrariedades políticas e jurídicas, a aprovação do PT e de Lula só crescem. 

As políticas públicas com contrapartidas, como o Bolsa Família, vários programas de agricultura familiar, a política de valorização do salário mínimo, a construção de um milhão e meio de cisternas (água), milhares de imóveis do “Minha Casa, Minha Vida” e dezenas de Universidades Federais e Institutos Técnicos, entre outras políticas públicas, politizaram uma geração de nordestinos e nordestinas que, não à toa, foi a primeira a sofrer na pele as consequências da Reforma Trabalhista e da Emenda Constitucional do congelamento dos investimentos (gasto é o termo que o golpismo usa) na saúde e na educação, após o golpe de 2016. 

Muitas pessoas dessa geração foram as primeiras a cursar a graduação em uma universidade pública, gratuita, com políticas afirmativas de permanência, ensino de qualidade e bolsas de pesquisas em todas as áreas. As pesquisas de intenção de votos têm demonstrado o resultado dessa politização: a chapa PT/PC do B chega a ter, em alguns estados do nordeste, quase 70% das intenções de votos.  

Por isso, para desespero do planalto central e de sua base aliada, não está funcionando a estratégia de lançar Henrique Meirelles como candidato fantasia do golpista MDB para distrair a população do vínculo entre os tucanos e a candidatura de Geraldo Alckmin com as reformas golpistas. 

Para boa parte da população desse país, o MDB, o DEM, os tucanos do PSDB e Geraldo Alckmin representam o que há de mais atrasado no mundo: malas de dinheiro desviado, o roubo da merenda escolar de crianças pobres, o autoritarismo heteronormativo, o super faturamento de obras faraônicas e uma geração de políticos velhos e cafonas, que não são nem liberais – pois querem os lucros rápidos do rentismo e o encarceramento da população em situação de miséria que eles mesmo produzem. 

Não parece ter sido por outra razão que, além de não ter mobilizado ninguém nas ruas do nordeste, mesmo com a presença anacrônica de coronéis em algumas prefeituras, quando o candidato do golpismo e do PSDB, Geraldo Alckmin, resolveu se fantasiar de Lula com um chapéu de vaqueiro do sertão para tirar fotos e gravar vídeos para a campanha na televisão nas terras de uma sertaneja que cria cabras. Dona Marluci  aparece na gravação falando que votará em Lula! 

A sabedoria sertaneja de dona Marluci anunciou aquilo que a direita e parte da esquerda fingem desconhecer e que definirá as eleições de 2018: Dona Marluci votará no legado do Lulismo no nordeste porque não aceitará voltar para o passado de uma pátria tão desigual e tão subtraída. Não aceitará mais viver em um país do centro-sul maravilha às custas da miséria dela e de sua gente. E essa é a grande novidade da política brasileira.





*Patrícia Valim é professora de história do Brasil colonial da Universidade Federal da Bahia, conselheira do Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Perseu Abramo. Mãe de Ana, Bento e Maria, e avó de Maria Antônia. email: [email protected]

Edição: Daniela Stefano