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Coluna

Com Trump, tempos dramáticos nos esperam

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- Foto: Andrea Hanks/ White House
Como será o destino da humanidade entregue a um narcisista

A humanidade está sob várias ameaças: a nuclear, a escassez de água potável em vastas regiões do mundo, o aquecimento global crescente, as consequências dramáticas da sobrecarga dos bens e serviços naturais, indispensáveis à vida (the Earth Schoot Day).

A estas ameaças se acrescenta uma outra não menos perigosa, aventada já por vários analistas mundiais como os prêmios Nobel Paul Krugman e Joseph Stiglizt.

Recentemente um economista ítalo-argentino, Roberto Savio, co-fundador e director geral da Inter Press Service (IPS), agora emérito, escreveu um artigo que nos deve fazer pensar sob o título:”Trump veio para ficar e mudar o mundo” (ALAI-America Latina en Movimiento de 20 junio de 2018).

Aí afirma que Donald Trump  (EUA) não é uma causa da nova desordem mundial. Ele é um sintoma. O sintoma de tempos em que os valores civilizatórios que davam coesão a um povo e às relações internacionais são simplesmente anulados. O que conta é o voluntarismo narcisista de um poderoso chefe de Estado, Trump, que no lugar destes valores colocou o dinheiro e os negócios pura e simplesmente. São estes os que definitivamente contam. O resto são perfumarias dispensáveis para o domínio do mundo.

O “America first” deve ser interpretado como “só a América” conta e seus interesses globais. Em nome deste propósito, já pré-anunciado em sua campanha, Trump rompeu tratados comerciais com velhos aliados europeus, a Aliança do Transpacífico e abriu uma arriscada guerra comercial com seu maior rival, a China, impondo sobretaxas de importação de produtos que somam bilhões de dólares, além de cobrar taxas sobre o aço e outros produtos a outros países como o Brasil.

É próprio de figuras autoritárias e narcisistas fazerem pouco das legislações quando lhes convém passam por cima delas sem dar maiores razões. Para Trump, vale mais a invenção de “uma verdade” do que a verdade factual da mesma.

O “fakenews” é um recurso presente em seus twitters. Segundo Fact Checker, desde que ele assumiu a presidência, disse cerca de 3 mil mentiras. Verdade e mentira valem na medida que respaldam seus interesses. Curiosamente venceu os principais pleitos e tem a aprovação de 44% da opinião pública e de 82% de aprovação do Partido Republicano.

Trump não tolera críticas e cercou-se se assessores súcubos que lhe dizem para tudo “sim” sob o risco de serem sumariamente demitidos.
Caso seja reeleito, o que não é improvável, o estilo de governo e a negação de toda ética poderão tornar-se irreversíveis.

Não esqueçamos que Hitler e Mussolini também foram eleitos e criaram as suas mentiras vendidas como “verdades” para todo um povo. Podemos esta face a um mundo marcado pela xonofobia, pela exclusão de milhares e milhares de imigrantes e refugiados, pela afirmação excessiva dos valores nacionais em desprezo dos demais.

O crime maior foi, tal qual Herodes moderno, separar filhos pequenos de seus pais, colocados em jaulas, mostrando-se sem qualquer sentido de humanidade e de compaixão. Tal crime clama aos céus.

Tais atitudes transformadas em políticas oficiais podem ser fonte de graves conflitos, cujo “crescendo” pode até ameaçar a espécie humana. Cerca de 1,3 mil psicanalistas e psiquiatras norte-americanas denunciaram desvios psicológicos graves na personalidade de Trump.

Como será o destino da humanidade entregue a um narcisista, deste jaez, cujo paralelo só se encontra em Nero que se divertia assistindo o incêndio de Roma, com a diferença de que agora não se trata de um incêndio qualquer mas da inteira Casa Comum.

Como é imprevisível e a toda hora pode mudar de posição, assistimos, assustados e estarrecidos quais serão os futuros passos.

Que Deus que se anunciou como “o apaixonado amante a vida” (Sabedoria 11,24) nos livre de tragédias que poderão ocorrer, dada a irracionalidade de alguém que anuncia “um só mundo e um só império”(o império norte-americano).

Leonardo Boff é teólogo, filósofo e escritor. É autor de, entre outros, “Salvar a Terra-proteger a vida: como escapar do fim do mundo, Record, RJ 2010. Artigo originalmente publicado aqui.

Edição: Simone Freire