Rio de Janeiro

UNE VOLANTE

UNE Volante chega ao Rio e debate o papel de estudantes na resistência contra o golpe

O projeto da entidade já passou pela UERJ e fecha sua participação no estado nos dias 24 e 25 na UFRJ

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Jessy Dayane, vice-presidente da entidade, na passagem da UNE Volante pela UFBA
Jessy Dayane, vice-presidente da entidade, na passagem da UNE Volante pela UFBA - Emily Firmino

A União Nacional dos Estudante (UNE), entidade que representa os estudantes de ensino superior em todo Brasil, está reeditando a UNE Volante. O Projeto feito no ano de 1962 fez uma caravana com os estudantes da entidade para conhecer a realidades das instituições e alunos por todo país na época da discussão das reformas de base de João Goulart. O projeto passou pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) nos dias 21 e 22 desta semana e levou debates, teatro e música para a universidade símbolo da resistência ao desmonte da educação pública. Nos próximos dois dias estará na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) discutindo a questão urbana. 

O Brasil de Fato conversou com Jessy Dayane, vice-presidente da entidade e militante do Levante Popular da Juventude, sobre a iniciativa. 

Brasil de Fato: O que é a UNE Volante?

Jessy Dayane: A Une Volante é uma iniciativa de ampliar o diálogo com os estudantes brasileiros. Indo até as universidades, promovendo debates, teatro, festival, várias formas de diálogo para debater com os estudantes qual a situação do Brasil, o que estamos passando hoje, que golpe é esse e qual a consequência desse golpe nas nossas vidas. E também pensar com os estudantes quais são as saídas, como é que a gente pode enfrentar esse golpe através da organização e da luta estudantil.

Como tem sido a UNE Volante até aqui? Ela iniciou no Norte do país e agora ela chegou ao Rio de Janeiro, como tem sido?

Ela iniciou em Belém do Pará, na UFPA, depois foi para a UFC, UFPE, UFBA, já fomos na UnB também, UFMG, UFU em Uberlândia, e agora estamos aqui na UERJ. Fizemos o encontro hoje na UERJ e amanhã (24) e sexta será na UFRJ. Em todas as UNE Volantes que a gente passou, o processo tem sido muito rico de diálogo. Muitos estudantes que as vezes tem trabalho ou estágio e não podiam participar de espaços do movimento estudantil nacional por não poder viajar, agora estão tendo a oportunidade de participar dos debates da UNE, de entender o que a entidade pensa, defende e combate.

Outra riqueza da experiência tem sido debater projeto de país. São os estudantes brasileiros debatendo qual o papel da engenharia no desenvolvimento nacional, qual o papel da universidade na construção do SUS no Brasil, na construção de política pública de segurança. Ou seja, são os estudantes refletindo o papel da universidade na construção de fato de um país, de um projeto de país.

E quais são as perspectiva daqui pra frente? O que vocês esperam ter de acúmulo ao final desse processo?

Essa reedição  termina no dia 7 de junho. A UNE Volante na década de 60 culminou em uma grande greve dos estudantes, a greve do 1/3 lutando por paridade nos Conselhos. Para nós esse processo de ampliação do diálogo tem dois objetivos. Um é para dialogar, conscientizar, disputar as mentes e corações dos estudantes para somar na luta contra o golpe. E dois, estimular a luta e a organização. Na organização, a gente espera com essas passagens deixar o movimento estudantil mais organizado, mais unitário, mais amadurecido e com mais estudantes conquistados para o nosso lado. Ou seja, ampliar a organização estudantil. E pelo lado da luta é estimular que ela aconteça.

A UFMT, a Unb e a UFScar, já são três universidades que estão em processo de greve estudantil. Nesses casos, por conta dos Restaurantes Universitários que estão aumentando muito os preços por conta do rombo orçamentário que fizeram os cortes na Educação. Então, a ideia é que a gente acumule força, organização e mobilização para daqui até o final da UNE Volante estimular que lutas pipoquem em todas as universidades do país para resistir ao golpe, e resistir pela educação pública, gratuita e de qualidade, com recurso, com investimento para conseguir avançar na Educação.

A UNE Volante surge pela primeira vez em 1962. E como surge a ideia da recuperação dela neste momento?

A UNE Volante não é uma proposta que foi apresentada pela primeira vez em 2018. A gente já apresentava ela em teses, discutia ela em congressos. Mas agora, em 2017, quando essa nova diretoria assume, pensamos: “estamos vivendo uma situação de aprofundamento do golpe no país”. O golpe foi dado em 2016, mas em 2017 ele se aprofunda. Vemos uma maior violência, intolerância e o avanço do fascismo, tanto fora quanto dentro das universidades. As medidas antidemocráticas e antipopulares sendo aprovadas pelo Congresso Nacional e pelo governo ilegítimo, retirada de direitos, aumento do desemprego. O país sendo desmontado e a educação pública ameaçada com a proposta de pagamento de mensalidades nas instituições públicas, com o congelamento dos investimentos sociais por 20 anos.

Vemos toda essa situação e pensamos: “precisamos ampliar a mobilização e a luta estudantil para defender a universidade pública, em especial”. Por esse motivo, essa leitura do que estava acontecendo no nosso país, o conjunto dos coletivos e forças políticas da UNE e que compõem sua diretoria, compreenderam que era o momento de fazer diálogo. Se eles apostam no ódio, na violência, a gente aposta no diálogo, na conversa, no convencimento, na política mesmo. A gente apostou e decidiu reeditar a UNE Volante e ampliar esse diálogo direto, olho no olho, com os estudantes para que a gente consiga enfrentar o golpe.

Qual o papel da União Nacional dos Estudantes nesta conjuntura tão acirrada, para além do projeto da UNE Volante?

A UNE historicamente teve um papel de defesa da democracia e dos direitos do povo brasileiro como um todo, o patrimônio que é a universidade e a educação pública. Esse é um papel histórico da UNE e neste momento não poderia ser diferente. As outras gerações estudantis cumpriram esse papel de lutar pelo povo brasileiro. A nossa geração está lidando agora com um golpe parlamentar, jurídico e midiático, uma situação complexa no país e também tem o dever de defender a democracia, a soberania e o conjunto dos direitos do povo brasileiro que está sendo atacado, a nossa Constituição e tudo mais. Só que a UNE sozinha e os estudantes sozinhos, não são suficientes para conseguir enfrentar esse golpe.

Acho que a UNE além de conscientizar, estimular a mobilização e as lutas na nossa base, que é a base estudantil, defender a educação, também tem cumprido um papel e o dever de fazer isso em unidade com o conjunto das organizações da classe trabalhadora. Por isso a gente constrói a Frente Brasil Popular, a UNE também está na Frente Povo Sem Medo, nessa perspectiva de construir unidade com os diversos setores para que a gente consiga, juntos, construir um novo projeto de país para enfrentar e resistir aos ataques que estão acontecendo aos direitos do povo.

Edição: Jaqueline Deister