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SOBERANIA

Como fica a situação dos 212 trabalhadores demitidos da Casa da Moeda

O Brasil, nos últimos tempos, tem se especializado em repetir o pior do seu passado

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
O governo Temer acaba de demitir 212 trabalhadores da Casa da Moeda
O governo Temer acaba de demitir 212 trabalhadores da Casa da Moeda - Arquivo/Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Brasil, nos últimos tempos, tem se especializado em repetir o pior do seu passado. O governo Temer acaba de demitir 212 trabalhadores da Casa da Moeda, um filme que assistimos no governo Collor e todos conhecem o desfecho.

Fundada há 324 anos, a Casa da Moeda tem uma história de dar orgulho ao país. Na década de 1960 passou a fazer cédulas e em 1974 passou de autarquia para empresa pública, construindo o maior parque gráfico do mundo (510.000m2) na zona industrial de Santa Cruz. Foi quando passou a produzir cédulas também para o Paraguai, Venezuela e Argentina. 

Não é pequena a responsabilidade de fabricar moedas, notas e passaportes. Para além do simbolismo de soberania, a medida contrariou interesses estrangeiros, como os da maior gráfica do mundo no setor, a poderosa empresa inglesa Thomas De La Rue.

Nos anos 1990, a Casa da Moeda foi uma das estatais duramente atingidas pelas demissões arbitrárias de Collor. Foram necessários anos de luta e a atuação decisiva do Governo Lula - que pôs em prática a Lei 8874/1994, sancionada pelo Governo Itamar Franco -, para que a maior parte desses demitidos fosse anistiada e retornasse às suas funções. Foi nos governos petistas, como parte de uma política de fortalecimento das empresas públicas, que a Casa da Moeda teve sua importância novamente destacada. 

Hoje, Temer e o golpismo que o sustenta se esforçam para acabar com o patrimônio público construído. Atendendo a interesses de grupos privados, implementa uma política de desmonte.  As máquinas da Casa da Moeda, apesar do esforço e competência dos técnicos, estão sendo sucateadas ante a ausência de peças de reposição. A produção de moedas foi paralisada. O próprio Banco Central reduziu o pedido previsto no planejamento até 2018 e está licitando a produção de moedas entre empresas estrangeiras. Esforços feitos por dirigentes da Casa da Moeda para conseguir outros serviços e contratos, gerando receita, são impedidos.

O golpe decisivo é a redução do quadro de pessoal, exatamente como fez Collor. E, não por acaso, há anistiados daquela época que, hoje, são mais uma vez são alijados da empresa. Gente que dedicou sua vida à Casa da Moeda e que, por conta do período de desemprego imposto por Collor, até agora não têm condições de se aposentar. 

Este é um roteiro perverso, um atentado de lesa-pátria que o governo Temer está cometendo contra uma instituição estratégica ao Brasil. Não é o único, mas é simbólico. E, particularmente para o Rio de Janeiro, é mais um golpe a um estado arrasado por crise profunda e desemprego recorde. 

O filme que se repete na Casa da Moeda é parte do enredo maior que está se desenrolando no país, no qual a prisão de Lula deveria ser o golpe final. Mas, como Lula, não seremos figurantes desse filme. Se precisarmos retomar as lutas do passado, assim faremos. Se não nos rendemos antes, não será agora que vamos assistir a tudo batendo palmas ao fim da sessão.

Gilberto Palmares é deputado estadual do Rio de Janeiro, líder do PT na Alerj

Edição: Jaqueline Deister