Justiça

Um mês após execução, marcha refaz último percurso de Marielle e Anderson

Mais de 10 mil pessoas uniram-se ao ato político que cobra apuração do crime e o fim do genocídio negro

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Concentração do ato em memória de Marielle ocorreu sob os arcos da Lapa, no Rio de Janeiro
Concentração do ato em memória de Marielle ocorreu sob os arcos da Lapa, no Rio de Janeiro - Vinícius Mansur

Cerca de 10 mil pessoas marcharam pela cidade do Rio de Janeiro na noite deste sábado (14) para lembrar o brutal assassinato que, há um mês, tirou a vida da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista do carro no qual ela estava, Anderson Gomes. Cobrando justiça, a marcha repetiu simbolicamente o trajeto feito na noite do crime, quando Marielle participou de um evento na Casa das Pretas, na Lapa, e rumava para sua casa, na zona norte.

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Com muitas flores, batucadas e performances, a concentração de pessoas tornou-se marcha ao tomar a rua Mendes Sá, entoando palavras de ordem como "por Marielle eu digo não, eu digo não à intervenção". Ao passarem em frente ao Batalhão de Choque, os manifestantes também entoaram palavras de ordem pelo fim da Polícia Militar. A caminhada ocorreu sem qualquer confronto com as forças de segurança.

O ato terminou na rua João Paulo I, no bairro do Estácio, local onde ocorreu o assassinato. Ali foram feitas projeções, cânticos intercalados com 1 minuto de silêncio e uma lavagem simbólica. Também foram deixadas flores, velas e outras homenagens às vitimas.

“As pessoas estarem reunidas aqui e fazerem esse percurso é bem simbólico, para mostrar que tem um mês e a gente ainda não conseguiu encontrar justiça para Marielle e nem para Anderson. A gente está aqui na rua mostrando nossa resistência por ela, continuamos sendo sementes de Marielle e vamos estar muito mais fortes”, afirmou o vereador David Miranda (PSOL).

O vereador disse ter confiança nas investigações que estão sendo conduzidas por pessoas que conheciam Marielle desde os tempos que ela era assessora do deputado estadual Marcelo Freixo. Mas ressaltou que a pressão é constante e, também, internacional. A campanha Justice for Marielle, liderada por Miranda, já conta com apoio como Edward Snowden, Noam Chomsky e Naomi Klein, além de integrantes do movimento Black Lives Matters e de integrantes dos parlamentos alemão, inglês e norte-americano.

A poetisa e organizadora do Slam das Minas, Letícia Brito, também esteve na marcha e traduziu o sentimento de suas companheiras de rima. “Marielle era uma representante negra, periférica, de favela e era uma voz dentro da Câmara de Vereadores muito importante pra gente. Marielle apoiava o Slam. A gente chegou a fazer eventos com Marielle e as nossas poesias são muito políticas. Então, Marielle era uma liderança que a gente tinha, a gente perdeu e a gente quer justiça”, resumiu.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) destacou que a marcha era muito importante para confortar as famílias das vítimas e fazer jus ao legado de Marielle. “Um mês depois as pessoas continuam na rua. Acho que é uma demonstração para a sociedade que a morte não significa a morte. Revive-se o processo, o próprio trajeto que a caminhada vai fazer, dando um significado novo, de que a luta se mantem”, declarou.

Abalada também pela prisão do ex-presidente Lula, Jandira destacou que demostrar força de mobilização agora é fundamental para combater o estado de exceção e as injustiças crescentes no país. “É muito dolorido nem ver o sorriso da Marielle e nem ter a presença do Lula nas ruas. Mas, essa dor tem que ser transformada nessa capacidade que a gente tem de gerar esperança, de gerar alegria, de gerar solidariedade”, apontou.

Edição: Diego Sartorato