Rio de Janeiro

FOLIA

Blocos e sambas enredo mostram que carnaval também é espaço de política no Rio

De reforma trabalhista a legalização da maconha, o carnaval deste ano estará recheado de pautas e demandas sociais

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Uma das marcas do carnaval deste ano é a politização dos temas dos blocos e dos enredos das escolas de samba em todo o Brasil
Uma das marcas do carnaval deste ano é a politização dos temas dos blocos e dos enredos das escolas de samba em todo o Brasil - Fernando Maia/ Riotur

Uma das marcas do carnaval deste ano é a politização dos temas dos blocos e dos enredos das escolas de samba em todo o Brasil. No Rio de Janeiro não poderia ser diferente. De reforma trabalhista, a feminismo e legalização da maconha, o carnaval deste ano estará recheado de pautas e demandas sociais aproximando ainda mais a folia da política e mostrando que carnaval é, também, um espaço de luta.

Na lista dos blocos que trazem como pano de fundo alguma demanda ou questionamento, está o Planta na Mente, que foi criado há cerca de sete anos e reúne foliões em desfile que vai dos Arcos da Lapa até a Praça Tiradentes, na tarde quarta-feira de cinzas (14), a partir das 16h20. O bloco tem como pauta principal a legalização da maconha, como explica uma de suas percussionistas, a antropóloga Flávia Medeiros.

“A gente considera que o carnaval de rua já é manifestação política, ao ocupar e demandar o espaço público da cidade com festa, música e expressão artística. O Planta tem o objetivo de socializar a discussão da legalização da maconha. Fazemos isso através da música, das fantasias, das brincadeiras, linguagens diferentes do modo de fazer política tradicional” afirma.  

Mas não só a legalização da maconha que o bloco pretende trazer como discussão. “Tivemos um debate muito grande dentro do bloco, somos formados em grande parte por pessoas negras e a maioria mulheres negras, por isso, também tentamos passar pela questão do machismo e racismo. Estamos construindo uma militância que se reúne em torno da legalização da maconha, mas vai muito além dessa pauta” acrescenta. 

Algumas das mulheres que formam a bateria do Planta na Mente estão também no bloco Mulheres Rodadas, que vai completar seu quarto carnaval neste ano. No desfile, as músicas tratam sobre feminismo, liberdade e empoderamento das mulheres, de forma divertida e com muita purpurina. O bloco, que a cada ano reúne mais pessoas, sai pelas ruas do Rio na quarta (14), a partir das 9h. O local da concentração será anunciado na página no Facebook.

Também famoso por tratar de política em seus sambas enredo todos os carnavais, o Comuna que Pariu deste ano vai tratar sobre o assalto aos direitos dos trabalhadores, principalmente, das reformas trabalhista e da Previdência, com direito a Fora Temer e Crivella em seus versos. O bloco desfila na rua Alcindo Guanabara, no Centro, na segunda-feira (12), a partir das 15h.

As reformas propostas por Temer também serão tema do desfile da escola de samba Paraíso de Tuiuti. No ano em que a Lei Áurea completa 130 anos, o samba enredo da escola de São Cristóvão fala sobre as relações entre patrões e empregados durante o tempo e questiona se a escravidão, de fato, acabou no Brasil. A escola, que teve imagens de suas fantasias viralizadas na internet e foi tema de reportagens na imprensa nacional e internacional, será a quarta a desfilar no domingo (11) na Marquês de Sapucaí.

Blocos criticam política de Crivella para o carnaval

Também na onda dos sambas políticos, o bloco Simpatia é Quase Amor, um dos mais tradicionais do carnaval carioca, terá pela primeira vez um enredo crítico, tendo prefeito Marcelo Crivella (PRB) como alvo. A letra critica a relação do prefeito com o carnaval e a cultura popular na cidade, marcada por cortes de investimento e intolerâncias ao principal festejo da população carioca.

Para Tiago Rodrigues, trompetista do bloco Orquestra Voadora, o modelo de financiamento do carnaval é justamente o principal problema trazido pela atual gestão. “O que ameaça o carnaval é o fato de os blocos não conseguirem pagar as contas. A gente faz tudo por conta própria, temos um auxílio da Secretaria de Cultura do estado, mas isso não paga metade dos custos. Fazemos vaquinha, vendemos camisetas, nos viramos, mas muitos ainda tem que tirar dinheiro do bolso. E como resposta temos que cumprir mais e mais exigências sem dinheiro”, explica. 

Na última semana, dirigentes de grandes blocos do Rio de Janeiro foram pegos de surpresa com a possibilidade de não desfilarem este ano, por conta de uma lista da secretaria estadual de Defesa Civil que classifica 33 blocos como inadequados por não atenderem às normas de segurança contra incêndio e pânico estabelecidas pelo Corpo de Bombeiros. Na lista aparecem blocos tradicionais como Orquestra Voadora, Quizomba, Escravos da Mauá e Amigos da Onça.

“Nós fizemos a nossa parte, temos o aval da Riotur, órgão da prefeitura, e bola para a frente nem se cogita não sair o desfile este ano. Isso é um erro de comunicação dessa estrutura burocrática. Esse é o nosso décimo desfile, nunca tivemos nenhum registro de brigas, confusão com mais de 100 mil pessoas. As pessoas vão se divertem e nós vamos continuar fazendo carnaval”, finaliza. 

Edição: Vivian Virissimo