Rio de Janeiro

Entrevista | MC Guelo

MC Guelo: "O rap veio para mudar o cenário do gueto"

Idealizador do movimento Rap School lança novo clipe no próximo dia 24, no Morro da Chácara, em Niterói

Brasil de Fato | Rio de Janeiro |
"Tenho talento nos becos, diplomacia no asfalto, se quiser vir no meu mundo, não pise em vidro descalço". Trecho da Música DOM, de MC Guelo
"Tenho talento nos becos, diplomacia no asfalto, se quiser vir no meu mundo, não pise em vidro descalço". Trecho da Música DOM, de MC Guelo - Divulgação

MC Guelo é cria do Morro do Estado, em Niterói, como ele mesmo diz. É o idealizador do Movimento Rap School, que promove a cultura do hip hop nas favelas do Rio e busca ampliar a consciência política por meio da arte.

No próximo domingo (24), o MC lança o seu novo clipe DOM, em mais um evento do Rap School na quadra do Morro da Chácara, em Niterói, a partir das 9h.

Em entrevista ao Brasil de Fato, ele conta como entrou no rap e como a música é, para ele, uma forma de enxergar para além dos becos e vielas. 

Brasil de Fato: Como começou o seu envolvimento com a música? 

MC Guelo: Desde moleque. Eu comecei cantando funk, que era uma maneira de fugir dos problemas da comunidade. Eu usava o funk como uma arma para sair das limitações que o poder colocava sobre a gente. E o rap veio com a consequência do destino. Vendo as rimas, vendo a cena do rap acontecendo, eu passei a olhar mais fixo para o rap.  

E como o rap te ajuda a falar sobre a sua comunidade hoje? 

Eu posso falar que o rap é a minha força. O rap é sem fronteira, entra onde você menos imagina. E veio para mudar o cenário do gueto, para dar uma oportunidade também para os moleques da comunidade. 

E o Rap School?

É um movimento que a princípio foi criado para a gente ter um lugar para trocar uma ideia, falar sobre política fazendo música. Foi fundado há três anos com essa intenção.  Hoje já tem o intuito de levar para as comunidades o grafite, o skate, a cultura do bboy, que é a cultura dançante do hip hop. O evento sempre começa às 9h da manhã, aí entram os grafiteiros, fazendo aquela coletividade com os moradores. A gente quer ajudar a molecada a crescer vendo a cultura na parede. E o que a gente coloca na parede é o que a gente não escuta no dia a dia. Nosso patrão não vai falar para a gente que a senzala é a favela, entendeu?  Não vai falar que Zumbi dos Palmares foi um excelente revolucionário, tá ligado?   

Você está lançando agora um novo clipe da sua música Dom, que fala sobre como aproveitar os talentos, valorizar as pessoas. Como você acredita que deveria ser o Morro do Estado de onde você veio?

É um espaço pouco valorizado e bastante explorado pelos políticos. E o que eu tenho de desejo é que menos molecada morra no tráfico de drogas. Dos meus amigos que foram criados comigo, de 40, eu posso contar no dedo hoje que não dá 10. E se dá 10, dois viraram evangélicos e o resto está tudo preso. O que queria era um olhar público para a comunidade. Nós somos a força. Se a gente parar, para o Brasil. Vamos nos conscientizar, vamos ver quem votou para essa manobra aí do Temer acontecer. Vamos pegar essas pessoas que votaram nessa reforma trabalhista que não serviu para gente de nada e excluir essas pessoas da nossa política. 

Edição: Mariana Pitasse