Rio de Janeiro

SEGURANÇA PÚBLICA

Proposta de Crivella para Guarda Municipal é inviável, diz especialista

Delegado da Polícia Civil explica que treinamento da Guarda Municipal com Força Nacional não é possível

Rio de Janeiro (RJ) |
Segurança pública é apontada como a segunda maior preocupação dos cariocas
Segurança pública é apontada como a segunda maior preocupação dos cariocas - Divulgação

A segurança pública é um assunto que tira o sono de muitos moradores da cidade do Rio de Janeiro. Em pesquisa realizada pelo Datafolha, no mês anterior ao primeiro turno das eleições municipais, a segurança pública foi apontada como a segunda maior preocupação dos cariocas. Em tempos de alternância de gestão, muitas são as propostas dos candidatos à Prefeitura do Rio para resolver o problema da violência na cidade.

Uma delas, sugerida pelo candidato Marcelo Crivella (PRB), diz respeito a uma parceria entre a Guarda Municipal e a Força Nacional para treinamento. Porém, para o delegado da polícia civil e especialista em segurança pública, Vinícius George, essa proposta não pode ser concretizada. “A Força Nacional só é acionada em situações excepcionais, que alguma localidade em emergência no país demanda. É formada por um corpo de policiais de vários estados, então, não tem atuação permanentemente. Mesmo que tivesse, ainda assim não daria conta porque não conhece o território”, explica.

Além disso, as propostas de Crivella para a Guarda Municipal entram em contradição. Para o candidato do PRB, mesmo sem o porte de armas de fogo, a Guarda deve ser utilizada também em operações de policiamento comunitário e vigilância da cidade. “É uma tentativa de enquadrar a Guarda no modelo da UPP. Então, ao mesmo tempo em que ele quer treinamento com a Força Nacional, quer também uma polícia de ação local? Não faz sentido. Só mostra que essas propostas não passam de jogo de cena para as eleições”, acrescenta.

Como esclarece Vinícius George, a segurança pública do Rio de Janeiro é um problema político. O delegado explica que a Guarda serve aos interesses da Prefeitura e não atende a população porque a política não está construída para isso. “É um reflexo de como o prefeito se comporta no município, porque a Guarda só recebe ordens e as executa. Se tivermos uma gestão mais transparente e democrática, teremos também uma Guarda mais cidadã. Não é preciso de mais uma polícia militarizada e, sim, mais humana”.

Uma das propostas do candidato Marcelo Freixo (PSOL) compreende justamente esse ponto, ao priorizar a criação de centros de mediação voltados para a resolução dos conflitos urbanos em todas as regiões administrativas da cidade. O candidato também propõe valorização do profissional da Guarda Municipal, com a implementação de um plano de carreira, a garantia de  acompanhamento psicológico e a promoção de uma formação democrática fundamentada na garantia de direitos.

De acordo com o ex-guarda municipal, Renato Prata, 43 anos, essa é condição essencial para combater os roubos e a corrupção dentro da instituição. “A falta de um salário digno e de um plano de carreira faz com que as promoções só aconteçam para quem é indicado”, explica.

CAMELÔS

Sem função bem delineada, a Guarda Municipal do Rio trabalha hoje em várias frentes, desde a remoção da população de rua, multa de ilegalidades no trânsito até o combate ao mercado ambulante irregular. Essa última atividade é uma das que mais geram conflito nas ruas da cidade há muitos anos.

“Combater o mercado ambulante virou uma questão pessoal entre guardas e camelôs. A instituição não teve como iniciativa apaziguar essa relação, pelo contrário, sempre estimulou os enfrentamentos. Fomos usados de bucha, sendo jogados uns contra os outros”, afirma o ex-guarda municipal.

Para a ambulante Maria de Lourdes do Carmo, 42 anos, conhecida como Maria dos Camelôs, a violência e os roubos continuam nos seus 20 anos de experiência nas ruas. “Ainda há muito roubos. Quando eles apreendem nossas mercadorias e levam para o depósito, são desviadas. É muito difícil que a gente consiga de volta. A violência também é muito grande ainda. O pior é que agora os guardas têm novos instrumentos de repressão, como spray de pimenta e algemas. Imagina se tivessem também armas?”, questiona.

Segundo Maria dos Camelôs, durante as Olimpíadas e o período eleitoral as investidas da Guarda Municipal pararam. No entanto, os ambulantes têm receio de que retornem em forma de violentas represálias nos próximos meses como resposta ao resultado das eleições. “Muitos candidatos do PMDB nos coagiram pedindo votos para o Pedro Paulo. Agora que ele perdeu, estamos esperando a vingança da prefeitura”, explica.

Cabe lembrar que a segurança pública é uma atividade permanente que inclui muito mais do que o serviço repressivo de policiamento e combate à violência. Também diz respeito às ações preventivas, que vão desde a iluminação das ruas, ocupação da cidade até mobilidade urbana. 

As propostas de Freixo (PSOL) compreendem o sentido mais completo da segurança pública do que Crivella (PRB). Freixo sugere a ocupação dos espaços públicos com cultura, esporte e lazer, reformas nas calçadas, ruas, praças e parques para garantir a ampliação da iluminação e a ampliação da circulação dos ônibus à noite e de madrugada nas áreas de lazer da cidade.

“Nós não acreditamos nem no Eduardo Paes e nem no Crivella. Acho que ele vai ser a continuidade da política do PMDB na cidade. O candidato mais democrático é Freixo. Nós vamos fazer campanha para ele se eleger porque estamos cansados de só apanhar”, conclui Maria dos Camelôs.

Procurado, Crivella não respondeu aos questionamentos do Brasil de Fato até o fechamento desta matéria.

Edição: Vivian Virissimo

 

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