Rio de Janeiro

DIREITOS TRABALHISTAS

Comerciários, bancários e professores se somam à paralisação no Rio

Categorias paralisaram atividades para denunciar ataque aos direitos trabalhistas proposto por Michel Temer

Rio de Janeiro (RJ) |
Trabalhadores são contra as propostas do governo de Michel Temer de mudança na lei trabalhista
Trabalhadores são contra as propostas do governo de Michel Temer de mudança na lei trabalhista - Divulgação

Pela primeira desde a década de 1980, as maiores centrais sindicais do país estiveram em uma mobilização conjunta, nas principais cidades brasileiras, nessa quinta-feira (22). Diferentes setores participaram do “Dia Nacional de Paralisação, rumo à greve geral – Nenhum direito a menos”. Os trabalhadores são contra as propostas do governo de Michel Temer de mudança na lei trabalhista e nos direitos conquistados ao longo dos anos. No Rio de Janeiro, está sendo realizado um protesto no centro da cidade com a presença de milhares de manifestantes.

Funcionários do comércio, um dos setores mais amplos da economia do Rio, participaram dessa mobilização para denunciar as dificuldades enfrentadas pela categoria no dia a dia. “Os patrões alegam crise, mas, durante muito tempo, quando a economia estava boa ninguém se preocupava em valorizar o trabalhador. E agora querem que a gente pague essa conta. Não vamos dar nenhum passo atrás. Ajudamos os empresários a ficarem mais ricos e só queremos ser respeitados”, afirma o vendedor de loja Marcelo Nascimento, de 45 anos.

Marcelo trabalha desde os 17 anos em loja de shopping e mora na Rocinha, uma das maiores favelas da América Latina. Ele sabe bem as dificuldades enfrentadas pela classe trabalhadora. “Nosso patrões não cumprem a CLT, não reconhecem nossos direitos”, denuncia o vendedor. Ele destaca que esse é o principal problema de quem trabalha no comércio hoje. “Isso é o que mais acontece, porque o dono da loja paga um salário base e a comissão, mas esse valor da comissão é pago por fora e não é registrado na nossa folha”, explica Marcelo. Isso traz uma série de implicações e perda de direitos para o empregado, que acaba recebendo menos na hora de tirar férias e receber o 13º salário e o FGTS.

Agora, os trabalhadores temem que algumas dessas questões possam se agravar, caso as medidas propostas por Michel Temer sejam aprovadas, pois o governo quer uma “flexibilização da CLT”. Assim as empresas não terão a obrigação de cumprir rigorosamente a lei trabalhista, podendo negociar esses direitos através dos “acordos coletivos”.

 “A vida do trabalhador piorou muito nos últimos tempos e a gente teme que possa piorar ainda mais. Não há por parte dos empresários nenhuma preocupação em melhorar as condições e dar dignidade ao trabalhador”, conclui Marcelo.

GREVE GERAL

O Dia Nacional de Paralisação foi uma espécie de ensaio para a greve geral que está sendo costurada pelas centrais sindicais. Desde as grandes greves no ABC, lideradas por Lula no final dos anos 1970, quando ele era líder sindical, que o Brasil não via uma grande unidade entre os trabalhadores.

Os bancários foram os primeiros a decretarem greve no dia 6 de setembro, com mais de 11 mil pessoas mobilizadas em todo o país. A bancária Mariana Oliveira, de 27 anos, moradora de Realengo, zona oeste do Rio, explica por que decidiu participar da greve.

“Esse é o mecanismo que temos para lembrar aos banqueiros que somos nós que produzimos seus lucros exorbitantes, que o argumento da crise para o sistema financeiro não se sustenta. Basta lembrar que, no último período, os bancos aumentaram todas as taxas e têm total condição de dar o aumento reivindicado”, garante a trabalhadora.

Mariana também fala sobre o tratamento recebido pelos funcionários, considerado “abusivo”. “Somente com a categoria unida teremos força para combater o assédio moral e as metas abusivas, que são parte da nossa realidade de trabalho e acabam levando a um adoecimento sistemático. É comum encontrar bancários jovens já dependentes de medicamentos controlados”, relata a funcionária.

TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO

Os trabalhadores da educação, que também permanecem unidos nessa grande corrente em defesa dos direitos, estão atentos aos novos rumos que o país está tomando.

“Estamos passando por um momento de incertezas, com um risco real de retrocesso em vários direitos trabalhistas conquistados ao longo de muita luta de classe nas últimas décadas”, afirma a professora de História Daniela Lemes Couto Cardoso, do Colégio Estadual Julia Kubitschek.

Entre os projetos de lei que ela considera mais prejudiciais para os trabalhadores está o PLP 257, que limita o plano de carreira; a PEC 241, que congela o piso salarial do magistério; a reforma da previdência, que pode acabar com a aposentadoria especial; e a Lei da Mordaça, apresentado como Escola sem Partido, mas que na verdade quer impor limites ao professor e aos alunos na hora de debater em sala de aula. Esses projetos tramitam em esfera municipal, estadual e federal, nos governos do PMDB.

Na escola em que ela trabalha, a situação não é das melhores. “Não há profissionais para a portaria, não há inspetores, não há segurança no colégio, por exemplo. Nos últimos dois meses, houve a entrada de pessoas no colégio à noite, que arrombaram algumas salas e levaram alguns equipamentos, como computadores e data show. Além disso, em algumas das salas os aparelhos de ar condicionado não funcionam”, afirma a professora.

Daniela Lemes também fala sobre os salários dos professores. “Existem várias dificuldades que os professores enfrentam, mas a mais complicada é a baixa remuneração. A maioria dos professores chegam a ter que cumprir quase 60 horas semanais, o que representa 12h por dia, de segunda a sexta”, explica a docente.

 

MOBILIZAÇÃO NO RIO

No Rio de Janeiro, além da paralisação geral, milhares de trabalhadores se reuniram na Candelária, na tarde de quinta-feira (22), e marcham até a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Entre as centrais sindicais que participaram da convocatória estavam a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) e a Intersindical. As Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo também se somam à iniciativa nas ruas e nas atividades de paralisação.

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