Rio de Janeiro

CYRO GARCIA | PARTIDO SOCIALISTA DOS TRABALHADORES UNIFICADO (PSTU)

Eleições Rio: “Defendemos a mobilização para a greve geral”, diz Cyro Garcia, do PSTU

Para Cyro, PMDB transformou o Rio no paraíso dos empresários e só população organizada pode conquistar cidade de volta

Rio de Janeiro (RJ) |
Cyro: "Hoje o Rio é um paraíso para os empresários, as empreiteiras, os grandes fornecedores"
Cyro: "Hoje o Rio é um paraíso para os empresários, as empreiteiras, os grandes fornecedores" - Divulgação

Cyro Garcia está concorrendo pela primeira vez como Prefeito do Rio de Janeiro pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU). Bancário aposentado, Cyro já presidiu o sindicato de sua categoria, além de ser um dos fundadores da CUT e do PT.  Expulso do partido, em 1992, quando levou adiante a campanha pelo “Fora Collor”, fundou o PSTU, dois anos mais tarde. Nascido em Minas Gerais e radicado no Rio, Cyro também já foi deputado federal e candidato à governador do estado. Ao Brasil de Fato o candidato falou da necessidade de transformar o Rio em uma cidade à serviço dos trabalhadores. 

Brasil de Fato - Qual será o maior desafio ao assumir a Prefeitura do Rio de Janeiro, que mostra indícios claros de ter quebrado após oito anos de governo PMDB?

Cyro Garcia - Transformá-la em uma cidade a serviço dos trabalhadores, já que hoje o Rio é um paraíso para os empresários, as empreiteiras, os grandes fornecedores. Precisamos romper com essa lógica, o caminho pode ser taxar as grandes fortunas com IPTU progressivo, taxar os donos de imóveis que ficam fechados e romper com incentivo fiscal às empresas. Não podemos manter esse modelo, mas para isso precisamos da mobilização e organização de trabalhadores. Não será através da Câmara Municipal financiada pelo empresariado que vamos conseguir aprovação dessas medidas.

Brasil de Fato - Como o golpe de estado interfere nas eleições e na política municipal?

Na nossa concepção não houve golpe, na verdade, o que aconteceu foi disputa entre dois blocos burgueses. Dilma perdeu a legitimidade principalmente ao dizer em campanha que não ia mexer nos direitos sociais e foi a primeira coisa que fez. Temer é pior, nunca teve legitimidade. Não somos a favor do impeachment, mas nunca pedimos para Dilma ficar. As eleições municipais estão atravessadas pelo debate nacional, por isso, estamos defendendo nessa campanha a mobilização da população para a greve geral. Fora Temer e fora todos.

Brasil de Fato - Como avalia a  CPI das Olimpíadas? Quais são os legados deixados pelos Jogos Olímpicos à cidade na sua opinião?

O problema dessa CPI é o mesmo de todas as outras: em um congresso financiado pelo capital, a CPI acaba em pizza. Não temos nenhuma expectativa com relação a ela. Se tivessem investido o que se gastou nas obras olímpicas em saúde e educação muito dos nossos problemas seriam poupados. Já tivemos a experiência de outros megaeventos e vimos que não sobrou nada. Só conseguiremos ter acesso ao legado das Olimpíadas através de um processo de organização popular. Só assim a população se apropriará desses locais para praticar esportes e lazer.

Brasil de Fato - E quanto a saúde pública, que foi apontada por 46% dos cariocas, em pesquisa produzida pelo Datafolha, como o principal problema enfrentado na cidade?

A saúde pública está caótica. Falta consulta, profissionais especializados, leitos e temos grande demora para atendimento. Todo o sistema está afundado porque tratam a saúde como mercadoria e não como bem essencial da população. Precisamos acabar com os contratos com OSs (Organizações Sociais), municipalizar a saúde, ampliar seu orçamento e valorizar seus profissionais. Também precisamos tratar da saúde preventiva e não só da curativa. Para isso precisamos investir em obras de saneamento básico, urbanização das favelas, coleta de lixo regular e educar a população. Procurar a saúde para cura é o ultimo caso.

Brasil de Fato - Como avalia as verbas destinadas pela Prefeitura do Rio à educação? Qual sua análise sobre as limitações conservadoras em torno da educação pública?

Educação é a base de tudo. É primordial garantir uma educação pública gratuita e de qualidade. Precisamos ampliar seu orçamento, valorizar os profissionais da educação, instituir horário integral nas escolas. Para isso, precisamos de merenda decente, espaços de cultura, porque a escola não é só para ministrar aulas, mas para desenvolver as crianças de forma plena. Também precisamos investir nas creches, pois estão superlotadas. Por fim, defendemos que o ensino fortaleça a consciência crítica dos alunos para tratar das questões de gênero, orientação sexual, questão racial, combater essa sociedade preconceituosa que vivemos. Somos energicamente contra escola sem partido.

Brasil de Fato - Entre 2009 e 2015, mais de 77 mil pessoas foram removidas de suas casas pela Prefeitura do Rio. O que tem a dizer sobre questão da moradia no Rio?

As pessoas foram jogadas para longe dos trabalhos, onde não tem infraestrutura direito ou em locais dominados por milícias. Sem contar com processo de desconstrução de identidade dessas famílias. Pensamos em um plano de obras públicas para garantir vida digna das famílias. Pretendemos urbanizar favelas, garantir que sejam integradas à cidade. Não podemos mais partir a cidade entre favela e asfalto. A ideia é atacar o déficit de moradia por meio da urbanização das favelas, construção de moradias populares e expropriação de imóveis sem uso, sem indenização.

Brasil de Fato - Sobre a segurança pública, uma constante preocupação dos cariocas, como pode ser tratada sem que aumente a repressão nas favelas e periferias?

Ainda que a questão da segurança seja responsabilidade do estado, ela se faz na cidade. Não tem como a Prefeitura se omitir. Precisamos garantir saúde, educação, oferta de empregos aos jovens para que o tráfico não exerça de forma tão pesada a influência sobre eles. A Prefeitura precisa se mobilizar pelo fim da Polícia Militar. Queremos uma polícia eleita pela comunidade, uma polícia de respeito e não aquela que se impõe por medo. Precisamos combater esse ciclo, de que basta ser negro ou pobre para estar condenado à morte, por conta de uma política racista, machista e homofóbica.

Brasil de Fato - No Rio, não temos um sistema de transporte que atenda a todas as regiões. Como enxerga o papel da Prefeitura para melhorar a mobilidade urbana?

Transporte público tem que estar sob controle do município. Temos que acabar com a farra da Fetranspor que cobra caro por um péssimo serviço prestado na nossa cidade. Precisamos acabar com a dupla função de motorista e cobrador para aumentar emprego e garantir segurança. Construir um metrô que de fato funcione em toda a cidade. Mais importante: acabar com o apartheid social que impede a chegada da juventude pobre e negra na zona sul. Além disso precisamos garantir tarifa zero para juventude, idosos e desempregados.

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